Assunção Cristas: uma líder de transição?
Depois
do Presidente dos afetos temos o ex-presidente das lágrimas. Falo,
claro está, de Paulo Portas, que no congresso deste fim-de-semana em Gondomar,
desmanchava-se em lágrimas sempre que os discursos falavam de si. Isto é Portas
igual a si mesmo. O mesmo homem que deixa o CDS marcado pela indefinição. Desde
logo, no futuro e na capacidade de Assunção Cristas virar a página de um partido
que, de todo, não quer voltar a ser do táxi. Contudo,
o que espera a nova líder, mais do que uma dura travessia do deserto, é também
o que à esquerda o destino ditar. O
futuro do Caldas joga-se no mesmo tabuleiro do atual Governo, porque um dado sem
o outro não cria as consequências naturais do sistema político-partidário
português. Num
congresso de consagração, a ex-ministra da Agricultura fez questão de se
apresentar ao partido falando de si mesma, numa espécie de sinopse biográfica
que valida a ousadia de presidir ao CDS. A
mulher que desde ontem lidera o menino bonito de Portas diz, com orgulho, que
em 1976, quando a democracia nascia nos alvores da madrugada, estava na barriga
da mãe. Só havia de ver a luz do dia em setembro desse ano. Um ponto que quer vincar
para se tornar diferente e convencer o CDS de que «ser positivo é meio caminho
andado para as coisas correrem bem». O problema é que o otimismo não chega e
Cristas sabe disso. Num congresso que contou com dez moções de
estratégia globais, ficaram recados, ideias e desafios para a futura líder. E para aqueles que pensavam que havia
unanimismo em torno de Cristas, ficaram bem patentes as divisões que a saída de
Portas provocou. A maioria do partido preferia Nuno Melo, que adiou mais uma
vez o eterno desejo dos centristas na sucessão do querido líder. Olhando para esse futuro incerto, e mesmo
que Assunção surpreenda os militantes com uma presidência aguerrida, tememos, à
luz do tempo, que será uma mera líder de transição, como foram tantos outros,
como António José Seguro no PS ou Ribeiro e Castro no CDS, só para citar dois
exemplos. E Portas, o líder único, com qualidades
ímpares no púlpito e nas massas centristas, não fecha, de todo a porta a um
eventual regresso. Quem o conhece, sabe que a sua história na política não se
encerra aqui. Veremos se Assunção resistirá na travessia
e se, chegada a hora de eleições legislativas, os lobos internos não virão a
terreiro impor-se na corrida. Só o tempo o dirá.
*Crónica de 14 de março na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR.
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