Novos ventos sopram em Belém num tabuleiro incerto.
Marcelo
Rebelo de Sousa toma posse esta quarta-feira, 9 de Março, como Presidente da
República. O facto,
institucional e oficial, terá programa para três dias, numa espécie de
antecipação daquilo que poderá vir a ser o mandato presidencial do professor mais
conhecido do país. O ciclo que
se encerra, com dez anos de cavaquismo no Palácio de Belém, mostrou como o
exercício do cargo se pode transformar em pesadelo, quando o país não anda por
linhas direitas. Crises
políticas, sociais e económicas influenciam, como bem vimos, a ação do
Presidente, sendo que cai por terra, em muitos momentos, o argumento
constitucional da limitação de poderes presidenciais. Cavaco teve
de tudo nesta década: cooperação e deslealdade, escutas, demissões, resgate,
austeridade e sacrifícios, consensos falhados, governos de esquerda e de
direita e muitos silêncios quando o país precisava de alguém que falasse a
partir de Belém. Abre-se,
pois, uma nova Era no Palácio. Aos 67 anos sucede ao Cavaquismo aquele que é o
quinto Presidente da República portuguesa eleito em democracia. Aluno
brilhante, professor catedrático, comentador televisivo, político, Marcelo
Rebelo de Sousa chega a chefe de Estado, prometendo rasgar com tradicionalismos
institucionais que marcam o sombrio e solitário exercício do cargo. E já
levantou o pano em algumas escolhas pessoais, desde logo com Pedro Mexia para a
área da cultura e o jornalista Luís Ferreira Lopes para a área das empresas e
inovação. Dois rostos que representam uma nova geração no país, com rasgos de
inteligência e modernidade fora do comum. Marcelo é
reconhecido por todos como um homem de excecional inteligência, simpático,
divertido e emotivo. Contudo, há
muitos que consideram que com ele, a Presidência tenderá a ser demasiado
popular, fruto da sua forma tão peculiar e natural de estar junto do povo. Desenganem-se.
Marcelo é tudo isso mas é, acima de tudo,um verdadeiro estratega político. E
saberá, em todo o momento, ter os pés bem assentes na terra. Isto, claro, dito
antes do seu tempo e perante o que eu, enquanto jornalista, pude conhecer do
agora Presidente nos últimos 12 anos. Porém,
Cavaco também demonstrava que podia vir a ser um Presidente mais ativo e, no
fim de contas, desiludiu, e muito, sobretudo no segundo mandato. Aconteça o
que acontecer, o Governo de António Costa terá seguramente solidariedade
institucional de Belém. Se as coisas lhe correrem bem à esquerda, e na condução
do país, terá nos próximos anos, o melhor dos ventos a soprar de Belém. Marcelo
promete ajudar, mas ao mínimo deslize o tabuleiro pode bem virar.
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