Os tiros presidenciais. No pé.




Marcelo Rebelo de Sousa assume-se como o Presidente de todos os portugueses. Mas será que está, ainda que há pouco tempo no cargo, a sê-lo mesmo? O presidente da República continua igual a si próprio: comenta tudo, marca presença em quase todos os eventos sociais, dá-se ao luxo de dizer o que não deve sobre assuntos que são da esfera legislativa. E, tal como aqui o dissemos quando foi eleito, está a correr demasiados riscos. O último, que vai para lá dos limites institucionais, deu-se na passada semana, quando Marcelo emitiu um comunicado oficial apelando a uma ação de solidariedade promovida pelo Sporting de Braga. É certo que todos sabemos que Marcelo é sócio do Braga. É verdade que sabemos também que Marcelo não pensa antes de falar e fala porque é genuíno nesse ato. Mas fazer um apelo destes é algo que foge ao bom senso, à postura de Estado que se exige a um Presidente. Um Presidente que se afirma como o representante de todos os portugueses. E o que dirão os portugueses que são do Porto, do Sporting, do Benfica ou até do Rio Ave, só para citar alguns. Um Presidente é um cidadão mas não pode assumir-se como independente quando faz um apelo destes, tem de estar acima de todos os credos, clubes ou partidos. Fosse Cavaco a fazer o que Marcelo agora fez e caía o «carmo e a trindade». No fundo, Marcelo ainda não percebeu o que lhe aconteceu e continua a ser ele próprio. Com mais uma dezena de episódios assim, as posições de Estado de Belém transformar-se-ão em grandes momentos de cabaret. Perde Portugal, perdemos todos. Quero um Presidente «afetuoso» sim, mas jamais quero um Presidente vulgar. Temo que Marcelo se transforme nisso, numa banalidade tremenda, arrastando consigo a imagem de um país. Veremos até onde Marcelo levará a Presidência da República com tanta mudança institucional.


*Crónica de 2 de maio de 2016 na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.

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