Com amor, dedicado aos Estados (des)unidos da Europa.
O
Reino Unido votou e decidiu sair da União Europeia. Emoções e reações imediatas
à parte, na verdade os responsáveis europeus devem olhar para este desfecho sem
dramas e encarar esta como a grande oportunidade para refundar o projeto
europeu. A
União Europeia não pode abandonar os valores que os pais fundadores lhe
impregnaram, como a
paz, a liberdade, a democracia, o
bem-estar e desenvolvimento em comum dos seus povos. Enquanto a Europa não mostrar aos seus cidadãos que é útil às suas
vidas, enquanto a economia não assegurar prosperidade e a moeda for um elo e
não uma desunião, nada nos valores ancestrais da Europa terá coesão. O futuro é incerto, para os britânicos e para os europeus. E
apesar de não sabermos o que nos espera, política e economicamente, também
Portugal deve refletir sobre o nosso caminho, preparando, de forma eficaz, a
futura relação que com o Reino Unido. Temos
há séculos a mais sólida das alianças, comercial e economicamente. Por isso,
antes de desatarmos todos por aí em loucos com medo do que virá a seguir, é bom
que políticos e governos tenham os pés bem assentes na terra. Qualquer erro no
passo seguinte poderá ser fatal para economias do sul, débeis e em ânsias de
crescimento, como é o nosso caso. Mudando de tema e falando da
Caixa Geral de Depósitos. Cinco mil milhões de euros. É este o valor que,
assim, como quem bebe um copo com água, está em falta na Caixa. Como por cá
temos a memória curta, e como parece que o passado recente já está lá longe, é
bom recordar que em maio passado, o primeiro-ministro, António Costa, aceitou
as condições de António Domingues para este
ser presidente da Caixa. Condição? Uma recapitalização do banco num montante
que de 4 mil milhões de euros. A 15 de junho, no Parlamento, Costa garante a
Jerónimo de Sousa que o atual Executivo quer a CGD «100% pública, 100% do
Estado e 100% capitalizada», sublinhando, na mesma intervenção, que só desta
forma é que o banco cumpre a sua missão de financiar a economia. Ora bem, entre acusações, da esquerda à direita,
de avanços e recuos de comissões forenses e auditorias e afins, sabemos apenas
que este é mais um buraco, impensável, que o país vai ter de pagar. Depois do BPN, BPP, BES e Banif, a banca nacional
está a atingir níveis gloriosos de grandes gestores. E nem o grande e tão
«querido» banco público escapa ao vendaval. Pergunto eu, na condição de
contribuinte e cidadã: onde param os CINCO MIL MILHÕES de euros? Onde esteve e
está o regulador Banco de Portugal? Onde estão os senhores do Reino e as suas
nobres famílias que andaram a gozar com CINCO MIL MILHÕES? O pesadelo e uma
nova tempestade abatem-se novamente sobre o país. Os do costume, cá estão, já
com pouca pele e osso, para pagar, uma vez mais a fatura. Por agora, e enquanto durar a febre do Campeonato
Europeu de Futebol, ninguém quererá saber. Mas quando o país acordar do sonho é
que virá o choque. As próximas declarações de IRS do povo ajudarão a resolver o
problema, não se preocupem.
* Crónica de 27 de junho de 2016, na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR.
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