Um 10 de junho marcado pela exacerbação nacional.
As celebrações do 10 de junho, dia de Portugal, Camões e
Comunidades Portuguesas tiveram, em 2016, uma carga simbólica excessiva e uma
evocação histórica singular. O Presidente superstar Marcelo Rebelo de Sousa foi o seu
impulsionador. Escolheu um palco invulgar nesta era democrática como há muito
não se via. O Terreiro do Paço, em Lisboa, símbolo maior do antigo
regime e, ao mesmo tempo, palco gigante da revolução dos Cravos, foi a escolha
do Presidente para as cerimónias oficiais. No discurso, a exaltação do melhor
povo do mundo, o português. E a completar o cenário, um excesso de desfiles militares
das Forças Armadas, a fazer lembrar o amor à Pátria no pouco saudoso tempo
colonial. Depois da exaltação nacional da manhã, Marcelo rumou a Paris
com António Costa a segui-lo. É na capital francesa que o chefe de Estado
completa o guião de uma celebração que se quer comum, próxima das pessoas, onde
o protocolo é coisa menor e onde os portugueses, anónimos e heróis, são
elevados a protagonistas do dia. Quer queiramos ou não, Marcelo fez deste 10 de junho um dia
único, peculiar e diferente de todos os anteriores. Mostrou que é Marcelo, o
mesmo que todos nós conhecemos como estrela junto do povo. Puxou pela
autoestima nacional, lembrou que somos os melhores do mundo e não esqueceu de
voltar a lembrar as elites políticas que é na convergência e estabilidade que
se encerra o destino do país. Já nesta antena o disse que o estilo Marcelo irá mudar a
forma como em Portugal se exercem cargos públicos. O professor está a mudar
Belém, fazendo do Palácio um espaço do cidadão, abrindo as portas ao povo e
mostrando como se faz. Porém, as dúvidas sobre as consequências deste estilo presidencial
são ainda muitas. Um Presidente tem de ser isto, é certo, mas a banalização do
cargo pode criar uma sensação de vulgaridade que não é desejável do ponto de
vista institucional. Veremos até onde Marcelo superstar irá aguentar o ritmo e a
pressão. Veremos até onde durará a frenética agenda presidencial que o coloca
de manhã à noite nas antenas de todos os holofotes mediáticos. Seja como for, este é um modelo nunca antes tentado por um
político em Portugal. Haverá pois de ser um case study ímpar. E que já fez
História neste 2016 também ele único na História Política do país.
*Crónica de 13 de junho, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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