Marcelo: o presidente incoerente.


O perigo de termos um Presidente interventivo como é Marcelo Rebelo de Sousa é que o Chefe de Estado corre, com isso, muitos riscos. Um deles é o de querer dar atenção a todos os setores e, pelo meio, muitos ficarem para trás e esquecidos. Não foi, por isso, à toa, que nos últimos dias, a Confederação Nacional de Agricultura, veio desafiar o Presidente Marcelo a pronunciar-se sobre aquilo que diz ser a “ditadura comercial” dos hipermercados que “impõem preços de arrasar à produção nacional”. A Confederação referia-se aos problemas que atingem o setor do leite, sobretudo no último ano, bem como às consequências que o impacto do fim das quotas leiteiras imposto pela União Europeia teve no país. Marcelo sabe que não consegue chegar a todos. Mas, ao mesmo tempo, tem a noção do erro ao prometer chegar lá. O preço a pagar em Belém por alguns setores da sociedade civil serem mais acarinhados do que outros, é grande. E este é um preço muito elevado já que, não é só na agricultura que se levantam vozes a chamar pelo auxílio presidencial. É tarde para recuar na postura e Marcelo sabe disso. Contudo, um Presidente de tantos afetos não pode esfumar-se apenas em meras ações mediáticas. Tem o dever de, em sigilo e silêncio, dar a mesma atenção a todos. Este será, seguramente, um dos grandes testes quando chegar a próxima eleição presidencial. Se Marcelo decidir ir a um segundo mandato, saberá que os seus eleitorados não se esquecerão do passado. Agradar a gregos e troianos é, pois, tarefa hercúlea. E Marcelo assumiu, a meu ver, um compromisso maior do que a sua própria sombra.


Crónica de 29 de agosto de 2016, na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR.

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