Onde estava Sócrates - primeiro-ministro na defesa dos contribuintes?
José
Sócrates tem todo o direito, enquanto cidadão, de se defender. De limpar a sua
imagem na praça pública. Mas o
antigo primeiro-ministro mancha a sua defesa há largos meses. Depois da
prisão preventiva, e das sucessivas contrariedades no caso, com claras
dificuldades por parte do Ministério Público em deduzir acusação, Sócrates
tem-se desdobrado em inúmeros e desastrados eventos públicos. E tem sido
uma triste e sombria aparição. Visivelmente desgastado e abatido, Sócrates é
brindado com convites de militantes e simpatizantes do PS em jantares, almoços
e conferências onde cria claramente uma estratégia de discurso e foco. Não se
coíbe de atacar a Justiça, essa malfeitora que atropela os seus direitos desde
o início do processo em que está envolvido. Não mede
as palavras para ferir de morte as instituições do Estado, como os tribunais e
a Autoridade Tributária, conferindo-lhes uma espécie de tormento para quem,
como nós, cidadãos o vamos ouvindo. É certo
que José Sócrates pode fazer tudo isto. Vivemos num Estado de direito e numa
democracia onde as liberdades e garantias fundamentais de cada indivíduo devem
ser respeitadas. Contudo,
Sócrates foi primeiro-ministro. Esse julgamento foi feito por todos nós. Mas
devia ter decoro sempre que abre a boca para atacar a Justiça e o Fisco. Nesse
tempo em que nos governou nunca se preocupou com os abusos das Finanças aos
contribuintes, nunca teve um pingo de inquietação perante os morosos tempos dos
tribunais ou os atropelos do Estado às liberdades individuais. É caso
para dizer que às vezes só quando estamos do outro lado é que percebemos
realmente o poder das tenebrosas máquinas estatais. Quanto ao
resto, depois de a Justiça tomar decisões, é que nós, cidadãos anónimos,
faremos o julgamento do Homem. Até lá, de
nada vale a Sócrates afundar-se em discursos carregados de raiva e ódio. Até porque
isso de nada lhe serve para arrancar a espada ainda tem em cima de si.
Crónica de 26 de setembro, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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