Bob Dylan: Nobel da Literatura.
Durante o dia, longe da intoxicação da rede, refleti imenso sobre a chamada "surpresa" do dia. É histórico. É fora da caixa. E é, acima de tudo, justo. Só os "velhos do restelo" não mudam. Só os resistentes à mudança e a uma outra forma de olhar o mundo não o perceberão. Era a minha escolha? Não, talvez porque reconhecendo-lhe eu toda a carreira nasci num outro tempo, fui moldada por outros que se lhe seguiram. Mas sobre isto ainda hei-de falar. E não, também não era Lobo Antunes a minha escolha, para muitos os que hoje me perguntavam: "ainda não foi desta que o teu ALA...". 2016 não seria de todo o ano dele. Contudo, para os que também por cá acham que é o eterno não-nobelizado, deixo uma sugestão: experimentem ler a prosa antuniana até 2010. Sobretudo até 2010. Perceberão que a obra ficará eternizada no lugar próprio. O problema é que a maioria dos que falam - bem ou mal do António - nunca leram uma única linha da sua obra. É isso que me deixa sempre triste. Seria hipócrita se dissesse que jamais me importaria de não o ver Nobel. Importo. Não pelo prémio, mas pelo justo reconhecimento de um escritor brilhante - sui generis, que se ama ou odeia na sua total dimensão, que me deixa ficar mal quando encarna um nível que detesto, mas pelo qual me apaixonei à primeira linha do velhinho "A memória de Elefante". Erram os que continuam a pedir-lhe o Nobel porque há muitos anos que sei que ele nunca virá. Sei-o eu e sabe-o ele nas suas entranhas e sombras mais profundas. Contudo, hoje não é dia de ALA. Mas de Bob. E Bob, esta é a mais nobre homenagem que te podiam fazer. E melhor que tudo: em vida. A tua poesia é isso mesmo: Vida. A tua. E a do Mundo que moldaste.
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