Guterres: a vitória da diplomacia.
Não
podia deixar passar o assunto mais badalado da semana sem falar nele nesta
antena. António Guterres foi eleito secretário-geral das Nações Unidas. O
feito é gigante, traçado por mérito e suor e sem armadilhas de outras eleições
no coração da ONU. Ao
contrário do que muitos acham, esta é uma grande conquista. Não por Portugal,
não por Guterres mas pelos milhões de pessoas que sofrem, em todo o mundo, às
mãos de guerrilheiros que matam em nome de nada. Independentemente
das qualidades de António Guterres, que as tem, desde logo a começar pelo lado
humanista do seu percurso de vida e acabando nos dez anos que esteve à frente
do ACNUR - a Agência da ONU para os refugiados, na verdade há uma conquista que
quero aqui realçar. Falo
da vitória e esforço da diplomacia portuguesa. Este foi um trabalho de meses ao
nível de bastidores que mobilizou dezenas e dezenas de portugueses. Um trabalho
que só foi possível pela extensa lista de contactos efetuados pelo corpo
diplomático. E aqui tenho igualmente de lembrar o importante contributo do
ministro dos Negócios Estrangeiros, que deu a cara por este coletivo. Tal
como Augusto Santos Silva disse ao Público na semana passada, esta é «a maior
vitória diplomática desde Timor-Leste». E é. No
fundo, esta eleição representa tão somente a capacidade de resiliência do povo
português, a força de um povo que, quando quer, consegue. Lutando, suando,
correndo. E é por isso que esta é também uma vitória coletiva. Fazer
do feito um momento heróico é ridículo, mas desprezá-lo como tantos o têm feito
também é lamentável na mesma proporção. Devemos
orgulhar-nos do que somos e do que conquistamos. E
sobretudo aprendermos com os outros de que o caminho só se traça com muito
esforço, empenho e dedicação. Esta é, para mim, a maior lição da conquista de
um homem talhado para a gestão de crises e não para a gestão política, como o
seu percurso o prova.
Crónica de 10 de outubro na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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