Com todo o meu amor, dedicado aos anjos de Alepo
Caminhamos a passos largos para o Natal. Esse tempo de
família, esse tempo onde o consumismo vem ao de cima no Ocidente, o mesmo tempo
em que na Síria há uma cidade prestes a desaparecer do mapa. É sobre ela que hoje quero falar. De Alepo, chegam-nos todos
os dias imagens que ferem a alma, que não nos podem deixar dormir em paz, que
nos matam devagar, de forma dolorosa e interminável. Conseguimos imaginar o que é viver numa cidade onde as
bombas caem a cada segundo? Será que conseguimos saber o que é viver há meses
debaixo de fogo cruzado? Conseguimos imaginar o que é perder familiares e
amigos todos os dias? Será que conseguimos perceber realmente como é respirar
com rios de sangue a nosso lado? Não, não sabemos. O genocídio que está a ser cometido na
Síria é o maior desde que me lembro de ser gente. Milhões de pessoas
deslocadas, milhares mortas, muitas delas crianças, hospitais destruídos,
casas, prédios, património da Unesco traduzido em cinzas. Assim é hoje o que resta de Alepo, a cidade velha síria,
vibrante antes da guerra, já lá vão cinco anos. Sobra pouco para continuar a resistir.
E o que mais dói é
ver as crianças, de todas as idades, umas feridas, outras deslocadas, sem pai,
sem mãe, por vezes, sozinhas, porque as balas lhes levaram a família inteira. O mundo, que se diz perplexo, continua a fazer meros
discursos que soam bem para os microfones televisivos, porque esse mesmo mundo
– leia-se União Europeia, Rússia e Estados Unidos – continua impávido e sereno
a assistir ao maior genocídio deste século. Falta pouco para Alepo desaparecer do mapa. Mas uma coisa é
certa, nenhuma consciência, no Mundo Inteiro, pode dormir em paz, enquanto as
vidas sírias continuarem a ser esventradas. Esta crónica é dedicada ao povo sírio, e em especial, a
todas as crianças refugiadas, da Síria, e do Mundo. É por elas que cada ação conta. É por elas que todos nós
temos o dever de fazer algo. Porque elas são o futuro da Humanidade. Em mês de Natal, seria bom pensarmos no que realmente conta
neste tempo que dizem ser de paz e partilha. No que realmente importa. E cabe a
cada um de nós fazer a diferença.
Crónica de 12 de dezembro na Antena Livre, 89.7, Abrantes, OUVIR.
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