Portugal Político em tempos de Carnaval
O Portugal Político parece, de ano para ano, transformar-se
cada vez mais numa novela digna de globo de ouro. É um bom tema para esta
semana já que estamos no Carnaval.
Todos assistimos ao tom menos próprio que envolveu a classe
política na polémica recente da Caixa Geral de Depósitos.
As guerras político-partidárias tendem a evoluir para um
grau de dureza nos discursos que merece repúdio e condenação. Falamos da mesma
classe que devia dar o exemplo, por várias razões, mas sobretudo pelo respeito
que deve aos eleitores que colocaram no Parlamento cada deputado, cada cara,
cada pessoa, em nome de um conjunto de promessas.
Contudo, e ao contrário da maioria, ainda há quem desça à
terra e pelo menos demonstre algum respeito por nós.
Falo do antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais,
Paulo Núncio, e do erro que assumiu este fim de semana em relação à vergonha
relativa às transferências de 10 mil milhões de euros para paraísos fiscais
entre 2012 e 2014, período em que a Troika por cá andou no tempo do Governo de
Passos Coelho.
Muitos portugueses nem sabem, provavelmente quem é Paulo
Núncio, apesar do cargo que ocupou. Contudo, sempre olhei para ele como alguém
honesto, sobretudo pelo seu currículo antes de chegar ao Governo. E pese embora
a irresponsabilidade política que agora assume, é raro vermos um governante ou
antigo político assumirem as suas responsabilidades.
Ao contrário de Pedro Passos Coelho, que sacudiu as suas
obrigações enquanto Primeiro-Ministro, Paulo Núncio fez o contrário. Esta é
apenas uma ação num charco repleto de irresponsáveis que, da esquerda à
direita, nos últimos 30 anos, por cá povoaram.
Serve tudo isto para dizer que, o país, assolado pelo brutal
ataque fiscal nos anos da Troika, e que não podia fugir com um cêntimo às
Finanças, merecia mais respeito. Sobretudo quando o mesmo Governo deixa fugir
milhões de euros para offshores.
É por estas e por outras que este País está refém do poder.
Que se mantém também no atual Governo com muitas áreas onde a incompetência
lavra.
Contudo, resta-nos alguma esperança de ver que ainda há quem
não quebre ante o populismo. Tutelas como a Justiça e a Saúde são dois bons
exemplos atuais onde os seus ministros não olham a interesses para desprezar os
portugueses. E é bom que o digamos. Esperemos que o tempo não nos tire a razão.
*Crónica de 27 de fevereiro de 2017, na Antena Livre, 89,7, Abrantes. OUVIR.
Comentários