Trump: o proteccionismo de má memória
Proibição
de entrada de imigrantes e refugiados de sete países maioritariamente
muçulmanos nos Estados Unidos. Construção de um muro na fronteira com o México.
Eliminação total do combate às alterações climáticas, ignorando o acordo global
estabelecido na Cimeira de Paris. Fim do programa de saúde mais ambicioso dos
últimos anos – o Obamacare – que garantiu seguros de
saúde a cerca de 20 milhões de pessoas pobres nos Estados Unidos.
Os primeiros dias de Donald Trump à frente da presidência dos
Estados Unidos foram assim. Cumprindo o que prometeu na campanha eleitoral mais
fraca de sempre, onde o populismo ditou o caminho que conduziu à Casa Branca.
Na verdade, Trump está a ser um anti-político no que ao seu eleitorado
diz respeito. Durante
a tomada de posse, em Washington, reafirmou os princípios que delinearam a sua
campanha como candidato republicano. Atacou os políticos e prometeu devolver o
poder ao povo. O novo lema da liderança dos EUA terá duas “regras simples:
comprar americano, contratar americano”.
É
aqui que entra o novo posicionamento da América com Trump. A ameaça
proteccionista social e económico não podem ser boas notícias para a economia
da maior potência mundial.
E
este é um perigo que todos os americanos devem ter presente. As empresas,
essas, já devem, ainda antes das eleições, ter feito planos de emergência para
lutar contra o isolacionismo que aí vinha.
Na
verdade as democracias ocidentais, que clamam há anos por uma maior aproximação
entre eleitos e eleitores, que se queixam de que a classe política atual
promete e não cumpre, só podem estar satisfeitas com o novo presidente
americano. Ele prometeu e está a cumprir. O problema é que tudo isto vem
embrulhado em populismo, em segregação e desunião nacional e mundial.
Fechar
fronteiras, construir muros e renegar as alterações climáticas é digno de
personagens dantescas, cuja analogia com a barbárie da primeira metade do
século XX pode bem, e legitimamente, ser feita.
Resta
ao Mundo combater, sem tréguas, os novos extremismos criados pelas democracias.
Porque o mais assustador é pensar que foi em liberdade, igualdade e
fraternidade que nasceram os novos monstros anti-paz.
Trump
é apenas um, povoam muitos mais por esse mundo fora e mesmo aqui ao nosso lado.
*Crónica de 30 de janeiro de 2017, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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