Pensamento Livre: os académicos, os políticos e os incêndios rurais

A tolerância às intervenções públicas de endeusamento da prevenção no que toca aos incêndios rurais, seja por parte de académicos ou, por arrasto, as proferidas por políticos, vai-se esgotando.



Texto: Paulo Pimenta de Castro
Presidente da Direção da Acréscimo - Associação de Promoção ao Investimento Florestal
Fotos: Ana Clara

Esperamos dos académicos que respondam ao desafio de tentar ver para além da montanha. Para cá dela, uns melhor outros pior, lá vamos vendo.

Perante os incêndios rurais que tendem a ser, cada vez mais, um problema em 365 dias do ano, já não confinado ao período estival, há que optar por uma mudança de paradigma, não por uma estratégia de remendos.

Centrar o problema dos incêndios rurais na prevenção é como prescrever antipiréticos para combater uma infeção. Poderá até atenuar alguns surtos febris mais violentos, mas fica longe de debelar a infeção. Esta, conforme decorre das estatísticas, tem tendência a agravar-se.

Também não será difícil entender que a melhor prevenção é a que terá por suporte os principais interessados na contenção do risco, as comunidades rurais.

Há uma tendência natural por protegermos o que nos gera alimento. Pelo inverso, tende-se a abandonar o que não gere espectativas de o conseguir. Talvez isto explique o êxodo rural!



Desta forma, também não é difícil entender que a prevenção do risco num espaço do território depende do tipo de gestão a que o mesmo é sujeito.

Numa simples análise à conta bancária de cada um, não é difícil perceber que o risco de a mesma chegar a zero decorre da gestão que dela se vai fazendo.

Todavia, também não é difícil entender que a gestão das saídas está dependente das entradas de capital, mesmo que tal ocorra através do recurso ao crédito.

Assim, por semelhança, também não será difícil entender que a prevenção do risco de incêndio em espaço rural está dependente da gestão a que é submetida essa fração do território, bem como esta última está condicionada pelo rendimento que na mesma venha a ser gerado, ou por entradas externas de capital.

Se a unidade territorial se enquadrar no domínio público, em última instância responde o Orçamento do Estado.

Se a unidade territorial estiver no domínio privado ou coletivo respondem os rendimentos auferidos a partir da mesma, ou os provenientes de fontes externas, que venham a ser obtidos pelos proprietários privados, sejam indivíduos, famílias ou empresas, ou pelas comunidades.

Desta forma, o que se espera dos académicos é a definição de uma estratégia que, com base no rendimento rural, estabeleça princípios de ação para o envolvimento das comunidades rurais na prevenção ativa aos incêndios.



Argumentar que o risco está dependente da prevenção está muito aquém do que se espera. Justificar, num país essencialmente de propriedade privada, que o esforço de prevenção deve estar centrado nos contribuintes também é escasso. Se os nossos académicos não conseguem ir mais longe, tragam-se os de fora.

Conseguidas as respostas por parte dos académicos, concretamente no que diz respeito ao combate ao despovoamento, há que incidir atenções sobre os decisores políticos.

Esse é um outro desafio, todavia, mais fácil. Este está dependente dos votos e os incêndios tendem a ter peso crescente nestes.

Agradecimento: Platonismo Político agradece a Paulo Pimenta de Castro ter aceite o convite para escrever, em exclusivo, sobre um tema tão importante para o país e ainda muito fresco nas nossas vidas. É ele o primeiro convidado do "Pensamento Livre", espaço que hoje lançamos e que, todas as terças-feiras, contará com um convidado/comentador. 

Comentários