Sahar Dofdaa: o meu grito de revolta pela Síria


Chamava-se Sahar Dofdaa. Tinha um mês de vida. E pesava dois quilos. Morreu a 22 de outubro e a sua fotografia chamou a atenção internacional para um dos problemas mais graves que assola toda a Síria neste momento: a subnutrição e a fome.

A guerra, que dura há vários anos, está longe de ter um fim, pese embora o Estado Islâmico ter perdido, nos últimos meses, grande parte dos seus bastiões no país.

O grande drama humanitário, que o Mundo, os média e os líderes ocidentais esquecem cada vez mais, está no limite.

Dezenas de milhares de civis vivem atualmente em condições de guerra insuportáveis.

Voltando à pequena Sahar Dofdaa desta crónica, com apenas um mês, pesava menos de dois quilos, tinha uma pele cinzenta, da cor do pó, e a pele colada aos ossos, com as costelas e as omoplatas a sobressaírem.

Nos pequenos braços da criança estava um tubo intravenoso que era usado para a alimentar.

As imagens foram divulgadas pela agência noticiosa France Press e mostram como somos zero perante o extermínio que há anos se pratica na Síria.

A juntar a isto é cada vez mais difícil às organizações humanitárias internacionais levar mantimentos a estas zonas. 

A subnutrição está hoje num patamar gravíssimo, com milhares de sírios em sofrimento.

Das 9.700 crianças examinadas nos últimos meses, conta um médico à Reuters, 80 sofriam de grave subnutrição, 200 de um elevado nível de subnutrição e ainda 4.000 tinham uma nutrição bastante deficiente.

Para piorar a situação, o mercado de comida é controlado por traficantes que inflacionam, sem controlo, os preços, tornando difícil a compra de alimentos.

Esta crónica é mais um grito de revolta por tudo o que a Síria passa há anos. Esta crónica é também uma homenagem a todas as crianças que, no mundo, são obrigadas a ter uma infância de sofrimento, de guerra e sangue.

Enquanto povos viveremos, nós também, com as mãos ensanguentadas. Que o mundo saiba olhar para eles como eles merecem. Ontem já era tarde.

*Crónica de 30 de outubro na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.

Nota: Decidimos não publicar a foto da pequena Sahar porque já a publicámos uma vez, há poucos dias, no Facebook do Platonismo. Achamos importante mostrar ao mundo a dor, mas não precisamos de a repetir. 

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