Com amor, dedicado aos políticos de Portugal
Esta é uma crónica dedicada aos portugueses de segunda
categoria que não têm políticos que os defendam. Confusos? Eu explico.
Vivemos num país refém de votos, interesses partidários e
capelinhas. Este é o mesmo país nascido do pós-25 de Abril com a democracia
portuguesa, tal como a conhecemos hoje.
Se houve conquistas, avanços e conhecimento inquestionáveis,
já na arena político-partidária, evoluímos para um estado em que dois partidos
de poder – PS e PSD – passaram décadas a trabalhar para a conquista do poder, a
colocar nos lugares de topo da Administração Pública os seus, os que os
ajudaram, dentro dos caciques, a chegar à cadeira de São Bento.
Dito isto, podíamos até pensar que os partidos mais
pequenos, quando envolvidos nesse mesmo poder, podiam fazer diferença, tentar
ajudar as massas que somos todos nós, contribuintes da República.
Podíamos, de facto, mas seria uma perda de tempo.
Comecemos pelo CDS. Fosse com a coligação de Durão Barroso
no início do século ou agora, durante o período da Troika, com Passos Coelho, o
partido hoje liderado por Assunção Cristas foi mais uma muleta de manutenção do
poder que outra coisa. Se dúvidas houvesse, basta olhar para o vazio de
reformas que deixou na Agricultura, Ambiente, Administração Interna e na
Segurança Social – áreas onde o CDS foi poder - e percebemos todos que tudo
permaneceu igual.
Olhando hoje para o Bloco de Esquerda e para o PCP, que não
sendo poder, suportam o Governo de António Costa, é fácil ver onde andam os
extremos de esquerda: seja com os professores, com os funcionários públicos e
com o país rural. O que interessa a estes partidos é, meramente, vencer a
guerra ideológica que os separa perante o Executivo PS. O que os move é
precisamente o poder e a influência que exercem junto do seu eleitorado. Porque
é tudo para o funcionalismo público, a engorda estatal e aumento da despesa.
A sensação que temos nalgumas matérias é a de que parece até
que a Troika foi um sonho e nem passou por cá. Tudo isto serve para perguntar
sobre os tais cidadãos de segunda com que iniciei esta crónica.
Onde ficam afinal, para todos os partidos, sem exceção, os
portugueses que trabalham no privado, e que são a larga maioria da população
ativa? Seremos afinal todos portugueses iguais como manda a Constituição da
República? Seremos todos a prioridade, na mesma medida, dos políticos que
elegemos? A resposta já os ouvintes a sabem.
Somos, claro que somos, uns mais iguais que outros.
Entretanto, nas sedes partidárias trabalha-se a contar votos para as próximas
eleições. Trabalha-se em chantagens ideológicas que desprezam a maioria dos
portugueses que ganham miseravelmente. Mas isso pouco importa porque o
importante são os 30 mil votos dos professores que já estão em marcha para as
próximas eleições.
E são estes os grandes partidos democratas e justos que
temos em Portugal.
*Crónica de 20 de novembro, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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