Pensamento Livre: o Tejo, a poluição e a grande Rota dos Caminhos


O Tejo. Volto a olhar para o rio Tejo com quatro questões, pelo menos.

Texto: Jerónimo Belo Jorge 
Jornalista

1 - O governo decidiu, ao que se soube na semana passada, cessar a laboração de uma empresa que trabalha o bagaço e, alegadamente, estaria a ser uma das fontes poluidoras do rio Tejo. Tudo certo. Ou não.

A dúvida é só uma. Esta empresa não estava a ser seguida? E as outras? É só esta?

2 – Soube-se, que esta semana foi feita uma descarga de água enorme. Ora a questão é simples. Porquê?

Estamos em período de seca em Portugal e Espanha. Não choveu e, que se saiba, não deverá chover, por aí além. Então esta descarga veio de onde? Belver? Fratel? Cedillo? Alcantara? E porquê?

Para produzir electricidade não terá sido. Poderia ter sido para limpar a poluída água. Poderia muito bem ser uma justificação lúcida, por forma a oxigenar as águas mais paradas que acabam por se encontrar ao longo do rio. Mas isso seria assumir um problema que teima em não ser reconhecido de peito aberto. O rio tem poluição.

Se calhar era muito positivo perceber quem mandou e porque mandou fazer uma descarga das grandes, como se a água estivesse em excesso no armazenamento.

3 - A 22 de novembro trocava meia dúzia de ideias com um abrantino que levanta questões. E muito interessantes.

Bom. Nessa conversa sobre o Tejo e as portagens na A23 e a propósito de alguma resignação de autarcas da linha do Tejo ficaram mais umas dúvidas. Por exemplo quando reuniram os autarcas do Tejo com uma agenda exclusiva do rio?



Todos os municípios, ou grande parte, têm projectos e uso para lazer das frentes ribeirinhas. Para quê, com a poluição vigente.

Ora, nesta conversa rápida com o André Grácio, fui fazer uma pesquisa rápida. Em Portugal a frente ribeirinha do Tejo tem 33 Municípios, de Idanha-a-Nova a Cascais.

(Idanha-a-Nova, Castelo Branco, Gavião, Nisa, Vila Velha de Ródão, Abrantes, Constância, Mação, Vila Nova da Barquinha, Almeirim, Alpiarça, Azambuja, Benavente, Cartaxo, Chamusca, Golegã, Loures, Salvaterra de Magos, Santarém, Vila Franca de Xira, Alcochete, Almada, Barreiro, Moita, Montijo, Seixal, Cascais, Oeiras e
Lisboa).

Podemos até retirar Cascais e Oeiras, Almada, Seixal e Montijo porque já terão mais água salgada do que água doce e a poluição já chega muito diluída.

Mas mantendo Lisboa. E se, a poluição que se concentra no rio até Santarém "encostasse" ali ao Terreiro do Paço ou à Ribeira das Naus? Será que tudo ficava como está?

Perguntava-me o André se os autarcas, e aqui não interessam cores, posições ou aspirações, já tinham assumido aquela posição de força de um G33 do Tejo ou um G qualquer do rio.

E depois repetiu a pergunta em público, quando é que os autarcas reuniram todos com o tema Tejo e poluição na agenda?

A questão não é atacar os autarcas. Se calhar é uma forma de abrir caminho para que possam criar mais uma linha de acção.

4 – O grande caminho ou rota do Tejo está desenhado no papel. Ou quer estar.



Desde 2011, ou antes, que as actividades de ar livre estão a ganhar terreno e muita procura. A criação de uma grande rota pedonal ou de BTT do Tejo, da Serra de Albarracín a Lisboa está em franco andamento. Em Abrantes e Constância está perfeitamente desenhado o investimento nestes caminhos ribeirinhos que aliam o desporto de bem-estar à natureza e à observação da biodiversidade. E a pergunta poderá ser feita ao ministro do Ambiente: Valerá a pena andarmos a criar rotas e caminhos do Tejo para mostrar a poluição das águas e a inactividade do Estado nesta matéria?

Nota final: A questão do Tejo é transversal a todas as linhas partidárias e a qualquer cidadão da região e do país. E mesmo dos 'nuestros hermanos'. Não se trata só de uma questão dos ambientalistas. Deveria ser de todos. Os canoístas. Dos pescadores. Dos barqueiros. Dos promotores de turismo. Dos utilizadores de lazer. Dos promotores de infra-estruturas públicas e privadas. Das associações de desenvolvimento regional. Das regiões de turismo. Das paróquias. Afinal, de tão abrangente que é o tema, deveria ser da população.

Agradecimento: Platonismo Político agradece ao Jerónimo Jorge – amigo desta casa há anos e jornalista como já há poucos neste país - este brilhante texto que, tem tanto de luminoso como de dramático. Por estes dias os ministros do Ambiente de Portugal e Espanha debatem, no Porto, o problema da seca e da poluição nos rios, nomeadamente o do Tejo. Os avisos têm sido muitos desde há meses a esta parte. Os poderes, neste país, sempre assobiaram para o lado e acordaram muito tarde para este problema que, de uma vez por todas, tem de ser resolvido.

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