Um desejo de Natal: sustentabilidade
Estamos no mês mais
consumista do ano. Com dezembro chega não só o Natal como as grandes
celebrações do final do ano.
Por cá, os avisos já
chegaram, mas é incompreensível para mim que sejam ainda necessários alertas
sobre o endividamento. Mas ao Natal já lá irei.
Comecemos pelo Banco de
Portugal, que já admite dificultar a concessão de empréstimos para a compra de
casa para proteger os bancos de uma nova crise.
A verdade é que os bancos, em
2017, começaram de novo a abrir os cordões à bolsa para concederem crédito à
habitação. Isso foi não só visível nas campanhas de promoção como também na
estratégia seguida por cada entidade bancária.
É um facto que se o regulador
deixar o barco avançar, a crise será certa.
Cometer o mesmo erro duas vezes,
sobretudo, depois da avalanche de resgates feitos pelo Estado a bancos onde a
corrupção e as ilegalidades andaram de mãos dadas, será no mínimo, um ato
irresponsável.
Voltando ao mês de dezembro. É
a época mais aguardada do ano, por crianças, alguns adultos e centros
comerciais. Tudo está já em modo automático onde a palavra de ordem é: comprar,
comprar, comprar.
Os créditos ao consumo estão
aí há muito, seduzindo de novo os mesmos: os mais frágeis, os que, de todo, não
deviam poder entrar, de novo, na rota de um novo abismo.
Por estes dias, vi um banco
português com uma campanha de crédito ao consumo que varia entre os dois mil e
os dez mil euros, com prazo de pagamento de 12 a 96 meses e com taxas de juro
absurdamente altas.
A economia portuguesa retoma,
é certo, mas o rendimento de muitas famílias é ainda insípido, sendo que muitas
delas ainda mal recuperaram da enorme dívida que contraíram há poucos anos e
que que destruiu tantas vidas.
Porém, na verdade, o inferno
do crédito ao consumo já começou há um ano. Em 2016, e de acordo com o Banco de
Portugal, as instituições financeiras concederam 566 milhões de euros aos
consumidores, um máximo histórico.
Pelos vistos, em 2017
preparam-se para fazer o mesmo ou oferecer mais ainda. E mais uma vez os
portugueses, cheios de esperança, de que tudo correrá bem, voltarão a
enforcar-se.
Veremos se aguentarão uma
segunda queda. É por isso que esta crónica não é sobre lições de moral sobre o
assunto, é meramente preventiva. Cada um saberá da sua casa, da sua conta
bancária e onde aplica o seu dinheiro.
Mas que é assustador ver de
novo o monstro a atrair o santo, lá isso é.
*Crónica de 11 de dezembro, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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