Os riscos de Rui Rio
Foto: Paulo Novais/Lusa |
«O PSD não foi fundado para ser um clube de amigos, nem
pensado para ser um clube de interesses individuais ou de grupo».
A frase é de
Rui Rio, eleito este sábado, presidente do PSD, e foi proferida no discurso de
vitória do novo líder “laranja”.
É nela que pegamos porque representa, mais coisa menos
coisa, aquilo que caracteriza Rui Rio.
A vontade que assume em limpar a casa, unir o partido e
recuperar o eleitorado para as legislativas de 2019, simbolizam o caminho e
farão a diferença entre o que pode correr bem ou mal.
O PSD, que tem nos dias que correm uma imagem colada à
austeridade dos últimos anos, terá de encontrar soluções (quase) milagrosas que
o distingam da atual maioria parlamentar que suporta o Governo de esquerda em
Portugal. E isso, seja qual for o líder, será uma tarefa muito difícil.
As pessoas precisam de esperança, de medidas concretas que
lhes acalmem as vidas agitadas que o FMI e a Europa lhes trouxeram.
Por isso, não basta ter a obsessão com as contas públicas em
ordem, é essencial definir um caminho que distinga o PSD enquanto partido do espectro
político de todos os outros.
Se Rio será capaz, não o sabemos. Mas que tem, mais do que
Santana Lopes e Pedro Passos Coelho, condições melhores, isso é inegável.
Veremos até se os tais “amigos” de que fala não virão pelas
suas mãos na futura composição da Comissão Política. Veremos se será capaz de
entregar o partidos aos melhores, expurgando as “más moedas” que tendem ainda a
aparecer, como é o caso de Miguel Relvas.
Tudo isto o tempo o dirá e nas legislativas de 2019 veremos
o resultado desse trabalho que Rui Rio hoje acha que é capaz.
De Santana Lopes, resta dizer que o seu destino continua
entregue a si próprio, enredado numa espécie sebastiânica em jeito de novela de
cordel.
Santana mostrou que mantém algumas qualidades que fazem dele
um político sui generis na vida política nacional. É emocional, domina a
retórica política como ninguém e consegue animar aqueles que o rodeiam.
Mas os anos já pesam, e como se provou, não trouxeram com
eles, um sinal de confiança. Depois dos tristes episódios de 2004, quando foi
primeiro-ministro, ninguém esquece as suas irresponsabilidades políticas.
Começa
a ser claro, para ele e para o país, que o seu destino será mesmo o de “andar
por aí”. Apenas e só. “Andar por aí”. Seja como for, a coragem de Santana, que
se agarra às corridas eleitorais de corpo e alma, sem pensar nas consequências,
é algo que faz falta a muitos políticos em Portugal.
Ainda assim, não chega, e é muito pouco para se ser
primeiro-ministro de um país que precisa de homens e mulheres de ferro,
conscientes e responsáveis.
A esquerda sabe que, com Rui Rio, o combate político terá de
ser mais eficaz, preparado e com estratégia. Porque, tal como António Costa,
Rio representa ainda uma réstia de classe a quem os portugueses, gostem ou
odeiam, reconhecem seriedade nos seus discursos e ações.
Até 2019 muita água ainda vai correr debaixo de muitas
pontes. E o mais importante de tudo isto, nós, cidadãos portugueses, é termos
representantes políticos capazes de nos defenderem, de tornarem as nossas vidas
melhores que ontem. Serão eles capazes?
*Crónica de 15 de janeiro de 2018, na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR.
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