A ver passar os comboios
Na semana passada mais um descarrilamento de um comboio de mercadorias na linha da Beira Alta.
Nos últimos meses sucedem-se os casos de incidentes, para não dizer acidentes, com composições. Muitos deles na linha da Beira Alta.
A ferrovia portuguesa e os nossos comboios estão mortos. Não houve nas últimas décadas, em Portugal, governo algum que tivesse levado a sério este problema.
Investimento? Zero. Seja ao nível técnico, operacional ou humano.
Já este ano, um trabalho do jornal Público punha a ferida a nu. O retrato é simples: falta de pessoal, trabalhadores desmotivados e perda de know-how.
A juntar a isto, comboios parados às portas das oficinas à espera de manutenção.
Este é o estado actual da EMEF – Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, que pertence à CP, mas que presta também serviços a clientes, como a Medway (que detém aantiga CP Carga) e o Metro do Porto.
É fácil perceber para quem como eu utiliza com alguma frequência o comboio onde param os problemas. Ou onde começam. Casas de banho frequentemente avariadas, atrasos permanentes, comboios que não aguentam mais.
Os governos, cada um deles à sua maneira, tem preferido olhar para investimentos em ligações cujo destino seja o exterior.
Ligações que ninguém coloca em causa, tendo em conta a necessidade do transporte de mercadorias, tão essencial às exportações das nossas empresas.
Mas quando olhamos demasiado para fora tendemos a esquecer o mais importante, o que está dentro da nossa própria casa. A degradação é total e só não houve ainda tragédia maior por milagre.
Era essencial que o país olhasse mais para este problema. Só uma moderna política de ferrovia, segura e confiável pode trazer o progresso que todos tanto apregoamos.
*Crónica de 30 de abril, na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR.
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