Pedrógão: um ano que nunca esqueceremos



Passou um ano sobre os trágicos acontecimentos de Pedrógão Grande. Um ano parece pouco e será sempre muito pouco perante aquilo que este povo sofreu e continua a sofrer.

Não é, de todo, uma notícia que queiramos recordar. Queremos esquecer. Pensar que ainda tudo não passou de um pesadelo.

Mas não passou. Foi realidade e continua a deixar-nos a todos assustados. É por isso que esta crónica é um grito, para que não esqueçamos, para que nos recordemos por toda a nossa vida daqueles que, como nós, portugueses, perderam as suas vidas.

Um ano depois, e ao longo dos últimos meses, percebemos novamente que voltamos a cometer os mesmos erros.

O território que tudo perdeu, continua abandonado à sua sorte, os apoios, mesmo os que chegaram, continuam a ser poucos para ajudar os que sobreviveram a viver dignamente.

A paz, o conforto, a serenidade jamais chegarão para estas pessoas, porque os sobreviventes e as famílias que carregam um dor inesgotável nunca se esquecerão e merecem continuar a viver com um pouco de tranquilidade.

É por isso também que esta crónica é um grito. Um grito de apelo para que não abandonemos estas pessoas, estes territórios, estas gentes que são nossas.

A floresta portuguesa continua a precisar urgentemente de uma estratégia sustentável, gerível, que integre não só a paisagem mas também as pessoas porque sem gente, sem populações, não há Interior que resista.

Se não voltarmos a povoar o Interior de Portugal Continental, se não injetarmos dinheiro e também valores nestes territórios, de forma integrada, sabemos que voltamos a perder a derradeira oportunidade de defender o que é nosso.

Em Portugal apenas 2% da floresta é pública. O Estado tem o dever de, de uma vez por todas, agir. E não ficar apenas por meras reformas de plástico. É preciso ordenar o território e não apenas ordenar a floresta.

Enquanto não agirmos todos, Estado, sociedade, empresas, não conseguiremos garantir a sustentabilidade da floresta, das nossas casas e das populações.

Todos concordamos: o que aconteceu há um ano não pode voltar a acontecer. Infelizmente, não vislumbro revoluções eficazes que nos garantam que tal não voltará a suceder.

Por isso, seremos todos, de novo, responsáveis. Acordemos, e acordemos de vez para salvar o país.

*Crónica de 18 de junho na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR

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