Habitação e turismo: a fatura chegará mais tarde
O turismo em Portugal está em níveis históricos. Todos o
sabemos.
Diariamente chegam notícias de prémios, recomendações
internacionais, números do sector que dão à economia portuguesa incentivos
importantes para o crescimento económico.
Mas aliado ao boom turístico nacional, com particular
destaque para cidades como Lisboa e Porto e regiões como o Algarve está uma
estruturante política nacional de habitação que, além de historicamente débil,
está mais frágil do que nunca.
Comprar casa em Lisboa tornou-se, no último ano, missão
impossível. Arrendar é igual. Quem vive e trabalha em Lisboa e procura
habitação própria sabe que tem pela frente um calvário sem precedentes.
Os preços são não só incomportáveis como estão apenas ao
nível dos que podem pagar um bem de luxo.
Sim, ouviram bem, caros ouvintes, um bem de luxo, porque é
disso que se trata.
São milhares os portugueses reféns de um mercado imobiliário
que está apenas e só virado para o lucro e especulação, piscando o olho, ao
mesmo tempo, ao turismo e alojamento locais.
Nos entretantos, tanto o Estado como as autarquias
revelam-se incapazes de se intrometer, de contribuir para uma regulação do
mercado mais justa para todos. E o panorama promete manter-se por um futuro
muito prolongado.
Enquanto estivermos cegos a olhar apenas para os milhões de
turistas que nos visitam, a dar-lhes prioridade, esquecendo os desgraçados que
cá estão, sem acesso a preços dignos de habitação, não iremos conseguir
preparar o futuro das gerações.
Os salários, por mais que o clima económico seja em 2018
muito melhor, continuam terrivelmente baixos, muito longe da capacidade de
qualquer agregado familiar para arrendar ou comprar casa nas cidades onde os
preços são apenas para ricos.
A fatura, não tenhamos dúvidas, chegará em breve. E como
sempre o Estado irá lavar as mãos como Pilatos.
*Crónica de 16 de julho, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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