João, continuaremos a fazer da vida uma festa

Foto: Global Imagens 

João Semedo não era apenas e só um político. Pelo contrário, antes de ser político, dirigente do Bloco, médico, João Semedo era um humanista. De carne e osso. Daqueles que se passeiam pela vida com uma rectidão ímpar. 

A doença fê-lo viver ainda mais. Os últimos tempos fizeram dele um testemunho vivo daquilo que todos já sabemos, porque todos já lidámos com a morte, de uma maneira ou de outra. Dele, o país fica com um legado imenso. Não só das suas lutas e convicções ideológicas mas também como uma permanente força de vida.

A entrevista que deu ao Observador, em Abril de 2017, é prova, entre tantas e tantas outras, disso mesmo. 

Escolhemos alguns excertos e prometemos continuar cá a fazer da vida uma festa, João! Assim ela nos deixe.

«...Não creio que a doença tenha mudado a minha forma de encarar a morte. Mudou mais a forma de encarar a vida, sobretudo, como nos agarramos a ela, voltar a vivê-la sem limitações, fazer o que fazíamos, não desperdiçar nada, ganhar gosto até por algumas coisas que nos contrariavam, relativizar de outra forma problemas e preocupações. E muda também, e de forma definitiva, a consciência da nossa finitude. Custa a admitir que estamos a prazo, que temos um limite, apesar de sabermos – e há muito tempo – que é assim mesmo. Não há alternativa. A morte é uma certeza que nos acompanha desde que nascemos. Sabemos, mas não pensamos nisso. Habitualmente não se pensa na morte. Fica-se com a tristeza, a nostalgia do que vamos deixar de viver, como que uma saudade do futuro que nos vai escapar...».

«Tive a vida que escolhi, a vida que quis, não tenho nada de que me arrependa no que foi importante, segui sempre a minha intuição, nunca me senti a fazer o que não queria. Sim, fui muito feliz, sou e acho que continuarei a ser».

«Nunca desejei morrer mas sempre achei que, se morresse, a morte me apanharia feliz com a vida que tive. No período em que estive doente houve uma coisa que mudou muito: nunca tinha tido tanto tempo livre e de forma tão continuada. E, claro, há tempo para andar com o filme para a frente e para trás. E sempre me senti bem, muito confortável e reconfortado com essas memórias. De facto, tive a vida que escolhi, a vida que quis, não tenho nada de que me arrependa no que foi importante. Segui sempre a minha intuição, nunca me senti a fazer o que não queria. Sim, fui muito feliz, sou e acho que continuarei a ser. O que correu menos bem, foram pequenas contrariedades sem grande peso, não marcaram a minha existência. A doença não mudou o sentido geral da forma como olho e aprecio a minha vida».

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