Carta aberta a Fernando Medina



Portugal foi eleito o “Melhor Destino do Mundo” pelo segundo ano consecutivo e Lisboa a melhor cidade destino a nível mundial.

Os prémios, atribuídos pelos designados Óscares do Turismo, consagram o país como um dos mais atrativos para se visitar.

Não há como não nos sentirmos felizes por isso. Sabemos que Lisboa está na moda e tem vindo a colher frutos no setor do turismo nos últimos anos. Isto será sempre a boa notícia.

Contudo, gostava de deixar ao senhor Presidente da Câmara de Lisboa algumas perguntas. Vão da parte de uma munícipe, que reside e trabalha em Lisboa, já lá vão uns bons anos.

Gostava de lhe perguntar, Dr. Fernando Medina, por que razão há zonas da cidade imundas, repletas de lixo a rodos, escondido entre sombras de ruas e ruelas, longe da vista dos turistas, mas a céu aberto para as janelas de quem lá mora?

Gostava que me explicasse, sr. Presidente, quão bons são os transportes de Lisboa, que continuam à mercê da sorte. Do metro à Carris, passando pelos comboios, são cada vez mais os problemas de cumprimento de horários, as deficientes condições de manutenção das carruagens e frotas, deixando em desespero tantas e tantas vezes, pessoas, cidadãos, que só querem chegar a casa ou ao trabalho.

Para quando uma decisão firme sobre a limitação de entrada de carros na capital? Ah, desculpe, esta pergunta não faz sentido, para isso era necessário haver um plano de mobilidade à séria.

Gostava de lhe perguntar também se a mesma cidade que acolhe a Web Summit durante uma década, e onde a tecnologia é a rainha da companhia, pode ser o mesmo lugar que padece de escolas e centros de saúde mesmo ali ao lado.

E já agora, entre taxas e taxinhas, que constam da fatura da água todos os meses, onde está o retorno para os seus contribuintes que lhe alimentam a autarquia como quem alimenta um cavalo? Há meses em que só as taxas superam o consumo de água. Na minha e na casa de milhares de Lisboetas.  

Podia continuar a enumerar tantos e tantos problemas que a cidade onde vivo, consagrada mundialmente como destino turístico, padece. Bem sei que nas outras cidades do país também há problemas. Mas é nesta que eu vivo e é nela que tenho a obrigação de me preocupar.

Espero apenas que um dia, os estrangeiros que nos visitam possam igualmente contribuir para a manutenção de uma cidade que, em certos dias e locais, mais parece saída de um filme de terror.

Não o desejo, porque Lisboa não merece, e quem cá vive e sustenta as suas infra-estruturas, também não.

*Crónica de 3 de dezembro, na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR

Comentários

Mensagens populares