Chega: o falhanço dos partidos tradicionais


André Ventura, no momento em que consumou a entrega das assinaturas no TC

Numa semana negra marcada pelos extremismos em Portugal, quero falar de algo que não mereceu a mesma importância da comunicação social.

E devia, porque é de extremismos que falamos, desta feita, políticos, e que, de uma forma ou outra, irão provocar danos sociais no futuro deste país.

Falo do Chega, o novo partido liderado pelo populista André Ventura, e cujas 7500 assinaturas necessárias já foram entregues, na semana passada, no Tribunal Constitucional.

André Ventura garante que o Chega «não é um partido de extrema-direita». 

Mas é difícil de acreditar. Primeiro que tudo, pelos sucessivos discursos agressivos que tem proferido nos últimos anos. André Ventura, é bom que nos lembremos, chegou à ribalta pelas piores razões, quando nas eleições autárquicas de 2013, usou o famoso discurso xenófobo sobre a comunidade cigana.

No site já em funcionamento do Chega, podem ler-se slogans de campanha como este “andamos a sustentar quem não quer fazer nada”, por sinal, a mesma frase que inundou a cidade de Lisboa em outdoors gigantescos há poucos dias. Eu própria esbarrei com eles.

O Chega propõe, entre outras ideias radicais, trabalho obrigatório nas prisões, regresso da prisão perpétua para homicidas e violadores e castração química de pedófilos e a  ilegalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

André Ventura tem, obviamente, o direito de fundar o partido que bem entender. E eu, enquanto cidadã, tenho o dever de o combater. Porque se é certo que os eleitores e os povos gostam de discursos radicais quando estão descontentes, também é verdade que isso só acontece porque os partidos tradicionais perderam a credibilidade junto dos eleitores.

Hoje, os extremistas ganham a corrida porque têm a bandeira da corrupção, do caciquismo e dos “jobs for the boys”, prontinhos sempre a atirar a partidos como o PS, o PSD ou o CDS.

É este, como bem sabemos, o problema. O falhanço da democracia é também a podridão das estruturas estatais, alimentadas há décadas, pelos impostos cobrados de forma vil aos contribuintes, e pelos partidos de poder que lhes dá forma.

É assustador que tenhamos chegado aqui e a escolha que todos temos é entre discursos xenófobos e partidos que prometem o Céu mas, em troca, apenas recompensam os lambe-botas que criaram para lhes fazerem os favorzinhos no poleiro.

*Crónica desta segunda-feira, 28 de janeiro, na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR.

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