O último suspiro de Bourdain

Sabia que queria ver. Que ia ver. Demorasse isso o tempo que fosse. Mas não consegui começar à mesma altura da emissão. Passou uma semana. Sempre que ligava a TV, conscientemente passava pelas gravações. Li as sinopses de cada episódio novo emitido a cada dia. Quase como que um martírio agridoce que infligia a mim mesma. E prosseguia, tentando ignorar. Este fim de semana carreguei no botão do meu cérebro e vi todos os episódios, de enfiada - faltam apenas 2 episódios que serão emitidos na próxima semana. Não escondo que tentei procurar em cada plano, em cada frase, em cada sorriso e rosto fechado, uma explicação. Não queria, porque não é assim que funciona. Mas, sendo eu uma seguidora e fã incondicional de Anthony Bourdain, continuo à espera da minha explicação. Porque quando gostamos muito de alguém rejeitamos o seu desaparecimento, criamos defesas para encontrar razões que nos tragam a paz que precisamos.
Bourdain suicidou-se durante as filmagens da 12º temporada de Parts Unknown, um dos melhores trabalhos - jornalísticos, gastronómicos e de viagens jamais feito até hoje. Nesta viagem sem regresso, deslumbra-nos, como sempre, numa verdade tão doce como cruel, naquela linha que o caracterizava, que mais não é que a beleza da simplicidade e da verdade. Do Quénia às Astúrias, passando pelos Estados Unidos e acabando na Indonésia, deixou-nos, como sempre, o melhor de si: a busca pelo que nos faz feliz, a vontade de estar e ser onde quisermos e algumas questões que, enquanto seres humanos, teremos eternamente, e que vagueiam entre as sombras e a luz, a vida e a morte, o destino e a fatalidade. Onde quer que estejas, Anthony, um beijo na testa e brindo-te em jardins de nómadas, com aquela cerveja na mão que tu tanto gostavas.

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