Passes, eleições e pseudo revolução nos transportes
Há quem diga que há uma revolução em curso nos transportes de Lisboa. Eu, cá, tenho as minhas dúvidas.
Avanço já com a minha declaração de interesses: sou utente há muitos anos. Conheço, de cor, todos os seus problemas, mas também as suas vantagens, que as há.
Contudo, a descida do preço dos passes na capital a partir de hoje (ontem) pode ser uma faca de dois gumes.
Em Lisboa, quem quiser andar em todos os transportes do concelho passa agora a pagar 30 euros por mês. Quem utilizar toda a área metropolitana, pagará 40.
A redução é brutal, sobretudo para quem, até agora, pagava um passe de centenas de euros.
Podemos até dizer que o que poupará num ano é muito mais do que um aumento salarial. Para muitas famílias, não tenho dúvidas, de que fará toda a diferença no orçamento ao final do mês.
Porém, com uma redução de preço tão grande, e se a medida não trouxer mais utentes, serão todos os portugueses que terão de pagar a benesse concedida apenas a alguns em ano de eleições.
O esforço financeiro é feroz e seria excelente se tal fosse sinónimo de uma redução de carros a entrar na capital todos os dias. Atualmente, de acordo com a Câmara de Lisboa, chegam aos 42 mil todos os dias.
Acresce a isto que a rede de transportes de Lisboa precisa, e muito, de ser melhorada. Não só ao nível das composições de comboios – no metro e na CP – mas também na frota da Carris. Além disso, no caso da Carris, os atrasos constantes põem em causa um serviço muito pouco eficiente.
Um verdadeiro plano de mobilidade urbana tem necessariamente de passar pela revolução nos transportes. Numa capital, ainda mais.
Mas em ano de eleições, e conhecendo nós o comportamento dos partidos na angariação de votos, temo muito que dentro de pouco tempo estaremos confrontados com buracos financeiros dantescos.
Até lá, aproveitemos os saldos que agora nos oferecem com pompa e circunstância.
*Crónica de 1 de abril, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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