Detroit: a cidade-fantasma que o mundo ignora




"Detroit é a cidade onde existe maior segregação racial nos Estados Unidos". A frase é de Charlie LeDuff, prémio Pulitzer em 2001, (ver mais abaixo) e dá o mote a um documentário que nos mostra a todos aquilo que já sabemos. Mas por mais que nos digam, que nos contem, achamos sempre que não foi possível. Mas foi. E é. 

Detroit é um inferno e às portas dele vivem (os poucos) abastados brancos que ficaram, depois de 2013, o ano em que a cidade se declarou insolvente. Lá dentro, ficaram os vulneráveis, presos a uma pobreza extrema e num limbo difícil de se libertar. 

Vi o quinto episódio esta noite na RTP3 às 20h00 (diariamente enquanto o prime time se desgasta em notícias requentadas, o canal de notícias da TV estatal presta, há muito, serviço público). 

Mais de metade da população de Detroit é afro-americana e perto de metade vive na pobreza. 

Um número desconhecido de pessoas vive sem acesso a água canalizada. 

Falamos da mesma cidade que foi ela mesma, em boa parte do século XX, a esperança e o símbolo do famigerado sonho americano. 

A pujança de outrora da indústria automóvel é apenas hoje uma miragem, o seu desaparecimento deixou para trás pobreza, racismo e uma cidade-fantasma que os restantes EUA preferem fingir que não existe. 

Neste documentário onde Charlie LeDuff, prémio Pulitzer em 2001, vai ao cerne, num grito desesperado, temos de ter todos, Humanidade inteira, vergonha.



Como é possível que uma cidade tenha chegado aqui? Aqui onde os pobres foram encurralados no centro de um lugar que um dia já foi um importante centro industrial sem precedentes? Aqui onde idosos passam fome, sem acesso a água potável, com as casas penhoradas e em risco de serem desfeitas? 

Aqui onde 47 por cento da população é analfabeta (dados do Instituto Nacional para a Alfabetização). Aqui onde as escolas fecharam e a maioria das crianças abandonou a instrução básica (apenas 1 em cada 10 alunos completa o ensino secundário).

Aqui, onde o crime é a profissão mais bem sucedida. 

Rezo por Detroit. E por mais que o mundo inteiro conheça a realidade, vê-la assim, nua e crua, é uma espécie de inferno que parece apenas fruto da minha imaginação. Não é. É apenas em segundos na minha cabeça. 

Dirão que há mais países e continentes em pior estado. Começando por África, acabando no Médio Oriente e passando pela América Latina. É verdade. Mas Detroit não pode ser esquecida apenas e só porque desmoronou. 

Detroit está lá, no nosso presente, caída no tal Inferno, que não é pior que outros. É apenas e só dela. E é a vergonha também do Mundo. Não é apenas da grande nação americana que a esqueceu. É a nossa vergonha!

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