Redes sociais: a necessidade (ou não) de Códigos de Conduta


Por estes dias vários jornalistas do Expresso - uns contra, outros a favor - vieram a público falar sobre o mais recente Código de Conduta do semanário e que visa adaptar os jornalistas à nova realidade das redes sociais.

Antes de ler o documento, "torci o nariz" à imposição, porque é disso que se trata. Depois de o ler, percebo que há regras que fazem sentido, mas outras nem por isso.

Todos sabemos como tem sido a dura realidade da comunicação social em todo o mundo desde que os efeitos das redes sociais começaram a fazer mossa. As fake news à cabeça mas não só. O ser humano é, por si, na sua condição mais basilar, um Homem livre. Todos nós, que estamos também ainda a aprender a lidar com a rede - os seus benefícios e os seus perigos - sabemos como elas podem destruir vidas mas também, durante muito tempo, dar-lhes ainda mais cor.

Sou jornalista há 15 anos. Sou produto daquela última geração de transição que chegou às redações e a internet estava ainda a dar os primeiros passos na massificação das próprias redações. 

Cresci com a expansão dos blogues - ainda o mantenho - mas acima de tudo acompanhei o crescimento das redes. Tenho contas em todas elas, do Facebook ao Twitter, passando pelo Instagram, Pinterest, YouTube,  e acabando no Linkedin. Exceção feita ao Facebook, nas restantes não tenho atividade, sou apenas uma observadora, usando-as mediantes as minhas necessidades, profissionais e pessoais. 

Esta nota é importante para voltar ao tópico deste post: o Código de Conduta do Expresso agora aprovado. Em parte, compreendo-o. Primeiro porque muitos jornalistas não conseguiram estabelecer a fronteira entre aquilo que deve ficar no recato ético e jornalístico e confundem os dois planos. E depois porque assisti (e ainda assisto) a muitas relações públicas expostas na rede e que colocam em causa a seriedade do trabalho final jornalístico. 

Somos obviamente todos maiores e vacinados, conhecemos, como ninguém a ética a que devemos estar vinculados. E temos, obviamente, de nos adaptar a esta nova realidade mediática onde estamos condenados a estar. 

Por outro lado, somos cidadãos, iguais a todos os outros, que laboram noutras atividades. Temos o direito de ter opinião, clube, religião, partido político ou sermos simplesmente o que quisermos. E, querendo, temos o direito de poder ter orgulho nisso. Porém, não podemos é misturar os dois mundos onde temos de coabitar. E nisso, muitos de nós, têm ido muito além do limite do que é razoável. É por isso, que deste Código, incomoda-me particularmente o ponto 2 b): "nas suas partilhas, o jornalista deve ponderar se a expressão das opiniões comprometem a sua independência"



A liberdade de expressão é clara para mim. E não deve, em momento nenhum, ser beliscada. É talvez por isso que este Código não é unânime na redação do Expresso. Nem o será tão cedo. Porque temos ainda de calcorrear um caminho ainda longo para aprendermos a lidar com a rede e com uma sociedade inteira que por lá desfila.

O mais importante é continuar a não perder de vista a ideia base do jornalismo: procurar a verdade, o interesse jornalístico, e não esquecendo nunca o papel que temos na sociedade onde vivemos. A notícia é algo que só pode ser bem feita com profissionais e não através das fake news que qualquer cidadão pode produzir quando bem lhe apetecer e partilhar com os milhões que povoam a rede. É por isso que, para sermos profissionais, somos habilitados para o fazer, com Carteira Profissional obrigatória e que acarreta regras claras. É também por isso que escolhemos esta profissão.

Veremos se conseguiremos sobreviver no meio de um mar de informação (e contra-informação), pressões de ordem vária e uma imensidão de crítica, essencial ao escrutínio do nosso trabalho.

A regulação é essencial há muito. Mas disso nem vale a pena mais falar, a ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social continua a assobiar para o lado nas matérias cruciais que afetam a classe. Por ora, e desde há muito, apenas a preocupa as taxas e taxinhas que vai cobrando com as irregularidades - secundárias - das empresas jornalísticas deste país.

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