A zanga de (algumas) esquerdas
Nas últimas semanas, após os debates a que todos assistimos,
passando pela campanha já em marcha, confirmamos o que em todas as eleições os
partidos têm para nos dar.
Ataques, gritos e discursos inflamados para atingir os
adversários. Vale tudo.
Mas nestas legislativas de 2019, e depois de quatro anos de
geringonça (que correu muito bem) em Portugal, é elucidativo o comportamento de
PS, CDU e BE.
E é aqui que todos vemos – e sabemos – a fibra que marca
cada um deles. A tirada do Bloco de Esquerda, nomeadamente de Catarina Martins,
no debate televisivo a seis, sobre reuniões e conversas que teve com António
Costa na manhã do dia das últimas eleições, acabou num espetáculo deprimente e
revelador.
Em campanha, são todos adversários, é certo. Só que em
política o que parece é mesmo. E Catarina Martins foi de uma deselegância
profunda ao “pegar” no assunto para atacar o líder do PS. Demonstra também
aquilo que António Costa sabe do Bloco: não é um partido confiável (nem ontem
nem amanhã) para negociar algumas matérias (sobretudo as fraturantes e
populistas).
Pelo contrário, o PCP – e Jerónimo de Sousa – mantém-se fiel
a um valor que é bem capaz de fazer deste o partido mais coerente em matéria de
confiança partidária e política. Jamais veremos o dirigente comunista a imitar
o momento teatral de Catarina Martins.
Se há coisa que os comunistas são nesta matéria – e noutras
– é cumpridores da palavra dada, e no caso, é mesmo honrada. O incómodo de
Jerónimo foi bem visível, sendo que nem ele nem Costa esperavam o circo criado
pela líder bloquista.
Uma coisa é certa, este arrufo, como muitos lhe chamaram, é
apenas um vislumbre do que é este Bloco, um partido que tem vindo a crescer nos
últimos anos e que, após esta legislatura, sente cada vez mais ambição de
gritar alto e de se achar dono e senhor dos votos do PS (o partido a quem
resolveu suportar no Parlamento). Contudo, ainda muito têm os bloquistas de
caminhar para chegarem a sonhar chegar ao poder. Na verdade, o BE nunca deixou
de ser uma força de protesto. Mesmo que o cheiro a poder os faça subir a uma
nuvem que tem tanto de motivação como de fragilidade.
Veremos se esta Geringonça se repetirá. E em que moldes. E
com que cedências das três partes.
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