Media Capital: uma compra com muitas dúvidas



A Cofina anunciou este fim de semana que chegou a acordo para comprar a Media Capital, que detém entre outros meios de comunicação, a TVI. Valor de compra: 255 milhões de euros.
Se é certo que esta operação está agora sujeita a várias condições, como a autorização da Autoridade da Concorrência e Entidade Reguladora para a Comunicação Social, a verdade é que poucos são os que já duvidam de que o negócio irá avançar.
A acontecer, trata-se de uma das maiores operações na área dos média em Portugal, mas também com muitas perguntas e dúvidas que ficam no ar.
A primeira passa pelas linhas editoriais futuras do novo grupo.
A Cofina garante que pretende manter tudo igual mas no comunicado enviado à CMVM deixa antever já algumas intenções. Entre elas, destacamos a que nos parece mais preocupante e que traz consigo despedimentos à vista.
Todos os profissionais da Media Capital são para manter desde que...«estejam dispostos a colaborar neste novo projeto».
Para mim, é simples. A Cofina quer uma televisão em sinal aberto. Não detém nenhuma neste momento. Com a aquisição da TVI, o grupo do jornal Correio da Manhã passa a ter essa mais valia. No cabo, é muito evidente que não haverá espaço para duas televisões de notícias, ou seja, tudo leva a crer que a TVI24 desaparecerá, mantendo-se apenas no ar a CM TV, com a linha editorial que conhecemos.
Uma compra desta natureza, sabemos todos, não poderá agregar todos. E nem todos também gostarão da marca popular e sensacionalista do grupo Cofina. Pese embora a TVI também se paute por um jornalismo muito peculiar, e atravesse um dos piores momentos da sua história em termos de audiências, tenho muitas dúvidas de que se mantenham todos os postos de trabalho.
A confirmar-se o negócio será, sem dúvida, uma revolução no panorama dos média em Portugal. Mas com as dificuldades que já conhecemos no mercado. E não duvido de que as fileiras do desemprego na classe irão engrossar.
Resta saber para onde evoluirá o mercado, onde iremos todos parar com tanta procura para um nicho tão pequeno.
Este é um dos problemas há muito conhecido dos profissionais. Entretanto, os anos passam, e o panorama está à vista: muitos jornalistas, desempregados e sem alternativa, só têm uma de duas opções, ou mudam de profissão ou tentam a sorte em agências de comunicação e assessoria.
Pelo meio, a urgência de recuperar o jornalismo, tal qual ele foi criado, cai em saco roto. As exigências deste mundo novo ultrapassaram a profissão e enquanto ela não conseguir superar os espinhos, continuará em declínio, sem qualidade e a pagar salários miseráveis.
*Crónica desta segunda-feira, na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR

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