Portugalidade: Alandroal, terra de fronteira e de história por desbravar
Nesta Portugalidade, partimos hoje à descoberta do Alandroal.
Situado no distrito de Évora, foi fundado em 1298 (reinado de D. Dinis) pela Ordem de Avis e elevada à condição de vila em 1486, por carta de foral atribuída por D. João II. No século XIX foram-lhe anexados os antigos municípios de Terena e Juromenha. Nesta viagem pela descoberta desta conhecida localidade alentejana, começamos pelo castelo.
Castelo do Alandroal
Trata-se, pois claro, de um castelo medieval do século XIII,
fundado por D. Lourenço Afonso, Mestre da Ordem de Avis, a mando do Rei D.
Dinis.
Tem sete torres ao redor e a Torre de Menagem ao centro, havendo vestígios desse tempo em que as inscrições estão nos arcos ogivais que abrem os fortes muros da cerca da qual uma delas, a Porta Legal aberta para o adro da Igreja, imortalizou o construtor mouro.
Esta porta, crê-se a mais monumental desta fortificação, é constituída por um arco gótico com corredor flanqueada por dois torreões quadrangulares ligados por cortina e encimados por ameias de remate piramidal.
Fórum Cultura Transfronteiriço
Este
espaço tem como objetivo a
promoção de atividades de natureza cultural. O edifício dispõe de um auditório
com 176 lugares sentados e sala de projeção, espaço café-concerto e salas de
exposições.
Estes módulos permitem a realização de
espetáculos de natureza diversa, como concertos, peças de teatro, bailado,
recitais, entre outros, que ali ocorriam antes da pandemia. Além disso, a sala
polivalente permite ainda a realização de exposições de média/grande dimensão
com artistas locais e de fora, enquanto as salas de ensaio podem acolher ateliês,
reuniões e ações de formação, entre outras atividades.
Contrabando, tempo de memórias
Perde-se na noite dos tempos a origem do contrabando na raia luso-espanhola. Elemento vital nas relações entre comunidades, foi durante séculos uma peça fundamental na dinâmica de sobrevivência de vastas franjas populacionais dos dois países ibéricos.
Atividade clandestina, quando as fronteiras ainda eram uma realidade e delimitavam espaços geográficos e políticos bem precisos, o contrabando configurou igualmente formas de afrontamento à autoridade do Estado, ainda bem presentes nos testemunhos de antigos contrabandistas. Presente em todo o Alentejo, onde a predominância da ”raia seca” favorecia tais práticas, o contrabando marcou desde sempre o concelho de Alandroal.Café, tabaco, peças de automóvel ou perfumaria eram os
principais produtos contrabandeados nesta zona. Para conhecer melhor as
histórias de vida destes homens, informe-se no Fórum Cultural Transfronteiriço
de Alandroal.
Juromenha
Falar do Alandroal sem falar de
Juromenha é um crime. Conhecida como a “sentinela do Guadiana”, por se
encontrar num cerro elevado sobre as margens do rio, esta povoação, em
particular o seu castelo, parece ter tido uma fundação bastante antiga. A
construção da estrutura medieval mostra aproveitamento de materiais de
construção romanos e visigóticos, não se podendo afirmar com certeza que tenha
tido ocupação dessa época.
As primeiras referências a Juromenha aparecem em textos árabes por volta dos finais do século VIII e, sobretudo, no século IX, quando os muladis – novos muçulmanos de origem ibérica – insatisfeitos com a sua posição na estrutura social islâmica se começam a revoltar e se constituem movimentos de autonomia. Após o fim do califado de Córdova, no início do século XI, e do fim do reino taifa de Badajoz (ao qual Juromenha pertence) os dois movimentos reformistas berberes, Almorávidas e Almóadas, são quem governa na região até esta ser conquistada, em 1167 por Giraldo sem Pavor, a quem se diz que D. Afonso Henriques nomeou alcaide. Na última fase de ocupação islâmica acredita-se que Juromenha tenha sido uma azóia, local defendido por muçulmanos voluntários que dividiam o tempo entre as actividades bélicas e espirituais. Desta cronologia pertencem a porta, as torres que a ladeiam e o pano de muralha em taipa militar.
Já no período cristão recebe a sua carta de foral de D. Dinis em 1312, que manda reforçar as muralhas e em 1515 recebe de D. Manuel o segundo foral. Durante a Guerra da Restauração foi construída a fortaleza abaluartada, adaptada à nova artilharia, de planta poligonal composta por duas cinturas de muralha, seguindo o modelo tipo Vauban. Ainda decorriam estas obras quando, em 1659, explodiu o paiol de pólvora danificando gravemente boa parte das estruturas.
Com o terramoto de 1755 a fortaleza foi
bastante afetada, principalmente a área de edificação seiscentista, tendo sido
então reconstruída. Também se construiu um fortim nas muralhas junto ao
Guadiana, para aportarem as barcas. No início do século XIX, durante a Guerra
Peninsular foi tomada pelo exército de D. Manuel Godoy, sendo só recuperada em
1808. Depois entrou progressivamente em decadência, sendo despovoada em 1920.
Mais tarde, a partir 1950 a DGEMN iniciou grandes obras de recuperação que se
prolongaram até 1996.
A fortaleza, com planta de modelo poligonal, é constituída por duas cinturas de muralhas, uma interna, onde se situa a torre de menagem, e outra externa, sendo esta de tipo abaluartado, com planta estrelada. No espaço interior da fortaleza foram edificadas as igrejas da Misericórdia e a matriz, e também os antigos Paços do Concelho e respetiva cadeia, e ainda uma cisterna de planta retangular que abastecia a população.
Atualmente, no interior do recinto
muralhado existem as ruínas das duas igrejas, da cadeia e dos antigos Paços do
Concelho. Em termos paisagísticos, a antiga fortaleza possui uma localização
privilegiada, no que respeita ao domínio visual dos territórios português e
espanhol. Vale a pena uma visita e um despertar para um tempo distante mas que
ainda nos fere o olhar de tanta beleza.
Terena
Terena, também conhecida por São Pedro ou São Pedro de Terena, é uma bonita vila Alentejana, pertencente ao concelho do Alandroal, situada numa bonita região onde reina a paz de espírito, próxima da Ribeira e da Albufeira da Barragem de Lucifécit, e próxima da fronteira com Espanha.
As origens desta vila são bem remotas,
existindo pela região diversos vestígios megalíticos de tempos pré-históricos,
como as xistosas Antas do Lucas.
Na Idade Média esta vila sofreu um
importante papel defensivo, como o prova o seu Castelo, que integrava a linha
de defesa do Guadiana.
Pensa-se que a fundação de Terena datará de 1262, tendo sido anteriormente ocupada por outros povos, como os Mouros que aqui deixaram a sua marca.
As calmas ruas de Terena são
caracterizadas pela bonita arquitetura Alentejana de casario rural alvo, de
faixas coloridas, e orgulhoso Património, como é visível no antigo Castelo da
vila, no Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, na Igreja Matriz de São Pedro
de fundação anterior ao século XIV, na bonita Igreja da Misericórdia (século
XVI), na Capela de Santo António (erguida em 1657), nas Ermidas de São
Sebastião, de Nossa Senhora da Conceição da Fonte Santa ou mesmo nas ruínas da
Ermida de Santa Clara.
Em Terena, é de destacar igualmente o Pelourinho do século XVI, a Torre do Relógio, as ruínas romanas do povoado fortificado de Endovélico e respetivo santuário, e também as ruínas do Castro de Castelo Velho.
Percursos pedestres
São vários os percursos à disposição do visitante em que percorrer o território está apenas à distância de uma opção,
de um gosto ou simplesmente de uma descoberta. Há sete percursos disponíveis (clique
em cima de cada um para descobrir):
PR5 – Juromenha, Sentinela do Guadiana
PR7 – Por Caminhos do Contrabando
Paladares do Alentejo
A gastronomia é um dos pontos fortes da região alentejana, onde o pão é o rei da mesa. Pratos como as migas, a açorda ou as sopas são outras das iguarias culinárias que o Alandroal tem para oferecer a quem o visita e quer experimentar.
Sopa de peixe do rio, caldeta de peixe barbo, peixe do rio frito, açorda de sável, lúcio-perca assado no forno, recheado ou de cebolada: uma vez por ano, no mês de março (antes da pandemia), o peixe de rio era o rei da Mostra Gastronómica de Alandroal.
Restaurante Adega dos Ramalhos. Crédito: Boa Cama, Boa Mesa. |
Artesanato
Da cestaria aos metais, dos trabalhos em madeira às pinturas alentejanas, do esculpir do mármore aos tecidos e rendas, sem esquecer as imemoriais artes da pesca de rio, os saberes artesanais do Alandroal – profundamente ligados aos ciclos da existência coletiva e às necessidades práticas do quotidiano – mantêm uma luta sem tréguas contra o esquecimento.
Os artesãos do Alandroal estão disponíveis para disponibilizar
peças, partilhar conhecimentos e transmitir saberes ao visitante interessado.
Aproveite a rara oportunidade: é só contactá-los e dizer ao que vai.
Razões para visitar o Alentejo, agora que desconfinamos mais uma vez, não faltam! O Alandroal é, sem dúvida, uma escolha imperdível para quem é fã dos sabores e tradições alentejanos! É ir.
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BI – Alandroal
População: 5843 habitantes
Área: 543.000 km2
N.º de freguesias: 4
Presidente da Câmara: João Grilo
Contactos:
Email: geral@cm-alandroal.pt
Site: https://www.cm-alandroal.pt
Telefone: 268 440 040
Fontes e Crédito das Fotos: Câmara do Alandroal e Turismo do Alentejo
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