CDS: um futuro com muitos "ses"
Quando Assunção Cristas anunciou, na noite das eleições, que a sua liderança chegava ao fim, havia um putativo candidato que eu, soube sempre, não iria avançar.
Falo de Nuno Melo. Ele foi - e é - o desejado por muitos centristas para liderar o partido que agora teve um resultado tremendamente negativo nas legislativas.
Quem conhece Nuno Melo e também lhe conhece o percurso nos últimos anos, percebe que é em Bruxelas que fixou os seus objetivos quando se candidatou no primeiro mandato e agora também neste segundo que está a cumprir.
Se alguma vez lhe passou pela cabeça avançar, essa ideia, admito que tenha ocorrido quando Paulo Portas saiu.
Há dois dias Nuno Melo desfez as dúvidas daqueles que ainda sonhavam com o seu regresso a Portugal para ajudar a juntar os cacos.
É certo que o estrago é gigantesco, e, desta vez, sem prognóstico certo.
O descontentamento da sociedade portuguesa com os partidos tradicionais há muito que ecoa nos boletins de voto. Só não vê quem não quer. O descrédito e suspeitas constantes da classe política na última década fizeram o resto
É que quando o CDS foi partido do táxi as circunstâncias políticas e do país eram outras. Hoje, são outras tantas, totalmente diferentes e depois de um longo e penoso período de Troika, que colou o CDS a uma política demasiado aquém das expectativas sociais. E este é, a meu ver, o ponto crucial.
A democracia cristã esfumou-se no tempo. O liberalismo moderado centrista também. Nos entretantos, saiu a Troika, entrou Costa e uma geringonça perspicaz e uma retoma económica e social que vai caminhando paulatinamente mas com pés de aço.
Nuno Melo foi duplamente claro: não é candidato e sugere que o próximo líder deve sair do reduzido lote de deputados agora eleitos.
Basta olhar para eles: entre João Almeida e Nuno Magalhães não tenho a menor dúvida de que o primeiro é o melhor posicionado para avançar. E cumpre a terceira sugestão do eurodeputado: representa a nova geração. E, segundo Nuno Melo, é disso que o partido agora precisa.
Tirando os outsiders, que merecem respeito mas que francamente não têm o que é preciso para lá chegar, uma coisa é certa: todo o CDS sabe que,o encontra o rumo e a identidade que perdeu, ou corre risco sério de vida.
Sabemos todos onde o partido perdeu votos. A Iniciativa Liberal, o Chega e o PSD que o digam.
O descontentamento da sociedade portuguesa com os partidos tradicionais há muito que ecoa nos boletins de voto. Só não vê quem não quer. O descrédito e suspeitas constantes da classe política na última década fizeram o resto.
Nos outros entretantos, o mundo mudou muito. E já não é a preto e branco como nós nos habituamos a ver a política. É preciso renovação. Todos os velhinhos partidos a fazem e a seguram ou acabarão por morrer. O CDS também.
Enquanto cidadã, democrata, e defensora da pluralidade partidária, espero que isso não aconteça. E que velhos e novos (partidos) possam coexistir. Só que isso levará, sem dúvida, a uma mudança de governação e a uma forma de fazer oposição muito diferente daquela a que todos estamos habituados em Portugal.
Eu, por mim, sou adepta da mudança. Só que para melhor. Se tudo isto trouxer ventos tempestuosos, então é melhor ficar como está, porque como está, já sabemos todos ao que vamos.
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