Ílhavo: à descoberta do museu que guarda um mar de narrativas épicas

A vocação principal do Museu Marítimo de Ílhavo, sob alçada do município local, é preservar memórias de vidas dedicadas ao mar. A expressão ganha dimensão, quando se entra num espaço que encerra «narrativas épicas» e a «identidade» de um passado descobridor. Aqui se desenrola o fio condutor de estórias da pesca de bacalhau nas águas da Terra Nova e da Gronelândia. 

Texto e Fotos: Ana Clara

«Os homens de Ílhavo sempre seguiram o mar. Navios, navios, navios, marinheiros, marinheiros, marinheiros - a história de Ílhavo é a história deles». A frase, encontramo-la registada numa das salas expositivas do Museu. Pertence a Alan Villiers, marinheiro, escritor e fotógrafo, na sua obra intitulada "A campanha do Argus" (1951), livro que deu a conhecer a pesca do bacalhau de homens e navios portugueses.




Através de Villiers, e de tantos autores que se pronunciaram sobre o povo marítimo de Ílhavo, as suas aventuras, amarguras e sustos que apanharam no mar, o MMI pode ser considerado como um lugar que se exprime através de uma missão muito aberta e plural.

Desde 8 de agosto de 1937, ano em que foi criado, o Museu (localizado na Avenida Dr. Rocha Madahíl), já passou por várias fases de renovação, sendo que o momento mais relevante, em termos de projeto, e que, de alguma forma, termina naquilo que o Museu é hoje, sucedeu em 2001, aquando da ampliação e remodelação do Museu e do edifício onde hoje se ergue. Mais recentemente sofreu nova remodelação para acolher o Aquário de Bacalhaus (inaugurado em janeiro de 2013) e o Centro de Investigação e Empreendedorismo do Mar (CIEMAR).

Desde 2001 até hoje, o Museu ganhou uma dimensão importante, não só em termos físicos, mas ao nível das coleções e no diálogo que estabelece com as comunidades e públicos a que se dirige.

Todos os que chegam ao Museu embarcam numa viagem que conta com cinco grandes momentos. O primeiro, dedicado à Faina Maior, à pesca do bacalhau, e onde é possível contemplar veleiros e pequenos botes (os chamados dóris), e que mostra a pesca do bacalhau em termos dramáticos e épicos, aquele trabalho humano admirável que evocamos e que os portugueses praticaram até 1974.

Nesta primeira sala, é possível ver, ao vivo, uma réplica de um navio bacalhoeiro e subir a bordo, assumindo-se como uma peça central no discurso do museu.


Depois da viagem à história e estórias da Faina Maior, a visita segue para uma outra sala, dedicada à ria de Aveiro, às fainas agromarítimas, aos trabalhos locais. Recordando as palavras de Raul Brandão, o programador do Museu recorda que, neste espaço de evocação à etnografia, misturam-se os perfis do lavrador e do pescador e exalta-se tudo isso num discurso mais cénico.

Seguindo viagem, encontramos a Sala dos Mares, dedicada à identidade local, às suas realidades e lenda. Aqui podemos conhecer os ílhavos, enquanto povo local, mas também como povo mariano, uma espécie de síntese da nação marítima que imaginamos ser. É uma expressão muito forte e didáctica, e que aborda aspectos da instrumentação náutica, mostrando ao público que os ílhavos são, por natureza, mareantes e homens do mar.

Há ainda uma outra sala expositiva com destaque para história natural (as conchas e algas marinhas), e que entretanto foi alargada com a coleção de conchas do Oceanário de Lisboa, recentemente doada ao MMI

Aquário de Bacalhaus

Esta viagem, através do MMI, desemboca, na sua mais recente atração: o Aquário de Bacalhaus. Único na Europa, entrou em funcionamento em janeiro de 2013. Aqui homenageia-se o «fiel amigo», sendo possível ver, ao vivo, 40 exemplares de Gadus morhua, que vieram de Alesund (Noruega). 

O tanque onde estão alojados, conta com uma capacidade de 120 metros cúbicos de água, a uma temperatura média de 12 graus centígrados, e com condições  de salinidade próximas das existentes no habitat natural do bacalhau,  aqui recriadas artificialmente.  

Os homens de Ílhavo sempre seguiram o mar. Navios, navios, navios, marinheiros, marinheiros, marinheiros - a história de Ílhavo é a história deles». A frase, encontramo-la registada numa das salas expositivas do Museu. Pertence a Alan Villiers, marinheiro, escritor e fotógrafo, na sua obra intitulada "A campanha do Argus" (1951), livro que deu a conhecer a pesca do bacalhau de homens e navios portugueses

Trata-se de um património biológico, que mostra o bacalhau do Atlântico, espécie que historicamente pescamos e consumimos, dando continuidade a toda uma lógica marítima evocada no Museu.

O projeto, impulsionado pelo antigo presidente da Câmara de Ílhavo, Ribau Esteves, assume-se como uma aposta no desenvolvimento local e foi desenhado no sentido de dimensionar o MMI para algo que surpreendesse o público, coerente, e que tivesse a vantagem de exercer um efeito de atracção de públicos importante.

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