Álvaro Santos Pereira: o defensor dos “pastéis de nata” que ignora a (sua) memória recente

Foto: Público

Quem não se lembra da grande tirada do antigo ministro da Economia do PSD – nos tempos da Troika -, Álvaro Santos Pereira, quando há seis anos defendeu o tradicional representante da doçaria nacional, os pastéis de nata, no âmbito da internacionalização dos produtos portugueses?

Todos nós nos lembramos, decerto. Falamos da mesma pessoa que, no tempo em que tentava segurar uma economia débil e fragilizada pelas medidas de austeridade impostas pelo FMI e por Bruxelas, pouco ou nada pôde fazer para implementar reformas no país.

E falamos da mesma pessoa que, economista reconhecido, vem agora dizer, em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, que o Orçamento do Estado para 2020 é apenas de continuidade e o investimento do país é o segundo mais baixo da União Europeia.

Quando um país e a sua classe política não têm memória é uma chatice. E uma contradição e afronta para todos aqueles que os elegem: nós, claro está, os contribuintes imperdíveis do costume. 

Álvaro Santos Pereira podia ter sido um excelente ministro, podia ter dado o melhor de si enquanto foi membro do Governo de Pedro Passos Coelho. Mas não deu nem o foi. E sabemos todos porquê. Porque não podia sê-lo. Porque estava enclausurado nas decisões de Vítor Gaspar, o ministro das Finanças mais sui generis que a democracia portuguesa já conheceu. Porque simplesmente não havia dinheiro para impulsionar o crescimento nem a economia portuguesa que, e bem, se virou para as exportações, e para um esforço que internacionalização de conceitos, marcas e produtos.

O que Álvaro Santos Pereira não pode fazer, sem invocar factos, é que quando os telhados de vidro se espetam nas nossas costas, a missa cantada só pode dar asneira. 

Não, as reformas estruturais não pararam há sete anos, pararam há muito mais tempo. Não, o país não está pior do que em 2013. E na realidade, um Governo livre não é o mesmo do que um Governo aprisionado às ordens do FMI.

Só é pena que o antigo ministro, e reputado economista, não ponha nas suas palavras a honestidade da (sua) memória recente. Que a tem. E a conhece como ninguém.

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