Austrália grita mas poucos a ouvem
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Na Austrália há
uma catástrofe a acontecer desde setembro.
Há quase quatro
meses que o país continua a ser engolido pelas chamas, naqueles que são já
considerados os piores incêndios do país.
Já são dezenas as
pessoas que perderam a vida. Outros milhares perderam a casa e tudo o que
tinham. Milhões de animais têm igualmente morrido nestes dramáticos fogos que a
Austrália não consegue estancar.
E há casos de
autêntico terror, como são os coalas. As autoridades estimam que mais de 8400
espécimes deste animal, 30% de toda a população de Nova Gales do Sul, pode ter já desaparecido.
O horror tomou de tal ordem
proporções dantescas, e
com as chamas a consumirem quase 6 milhões de hectares, que o Governo australiano convocou, este fim de semana,
3.000 militares na reserva para reforçar o combate.
A analogia é óbvia, pese embora a
dimensão não o seja. Portugal sabe bem o drama que são os incêndios florestais.
Todos nós há 3 anos vivemos um inferno sem precedentes neste país.
Sabemos que os problemas são muitos,
e ainda que alguns sejam diferentes, há um elo comum que coloca a Austrália e
Portugal no mesmo patamar de exposição: estamos à mercê das alterações
climáticas e de uma Natureza que grita por socorro e que arrasa, ao mesmo
tempo, a condição da espécie humana.
Uma
seca extrema prolongada, temperaturas extremamente elevadas e ventos fortes
são, pois, os maiores inimigos do território australiano.
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O clima é um dos grandes inimigos do país e o mundo
continua a assistir a mais uma catástrofe de forma impotente.
É pena que todos nós, os que sofremos na pele o
drama, continuemos a assobiar para o lado.
Em Portugal a reforma da floresta está em que gaveta
do Terreiro do Paço? Porque continua o imposto para a indústria da celulose no
esquecimento do poder? O que fizeram os responsáveis deste país, a longo prazo,
para evitar que se repita a tragédia de 2017?
Quando os eucaliptos crescerem de novo, quando os
verões aquecerem ainda mais, quando o Interior estiver novamente com barris de
pólvora nas nossas florestas e houver de novo uma tragédia, teremos então as
respostas que, por ora, estão silenciadas.
Se não encararmos o aquecimento global e as
alterações climáticas como duas urgências do nosso tempo vamos todos acabar
muito mal. O problema é que já cansam os alertas. Eles, os políticos, continuam
numa surdez desmedida.
*Crónica de 6 de janeiro de 2020, na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR.
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