Livre e Joacine: quando o poder destrói um projeto

Foto: Público 


O Livre já não é um partido. É outra coisa qualquer, mas já não é uma força política.

Um partido, por mais divergências profundas que tenha internamente, não chega ao estado miserável que nos tem presenteado desde as legislativas de outubro.

O espetáculo degradante a que todos assistimos este fim de semana é uma espécie de último ato. A última cena. O fim de uma história onde se prova que o poder pode conduzir-nos a um suicídio coletivo sem retorno.

A eleição de Joacine Katar Moreira podia ter sido a oportunidade de ouro para o crescimento de um partido que muitos portugueses acarinharam. As conquistas que alcançou são demasiado preciosas para a imaturidade colocar em causa.

Mas foi precisamente a imaturidade, a inexperiência e falta de sensatez que colocou o partido de Rui Tavares em queda livre.

O casamento entre Joacine e o partido arrefeceu. Ambos sonharam mais alto do que podiam. As ruturas foram sendo públicas nos últimos meses. E chegamos ao ponto, tal como nos divórcios litigiosos, em que apenas sobram gritos, discussões e acusações mútuas graves. Tudo, em direto, na praça pública. Tudo ao contrário. Já que tudo também devia ser tratado entre quatro paredes, no recato necessário.

No ponto em que está o Livre, dificilmente a conquista das últimas legislativas se voltará a repetir. Porque o Livre já não é um partido, é um bando de gente que não sabe o que fazer com o poder.

É um grupo de pessoas que prefere o palco e o circo às ideias e ao respeito por aqueles que votam nas suas convicções e lhe deram uma deputada. A deputada, essa, padece de uma podridão absoluta, repleta de preconceitos perigosos, de um ódio profundo interior e mal resolvida com ela própria e com a sua identidade.

Daqui ao funeral é um passo. E uma questão de tempo. É pena. Porque o país precisa de novas ideias, com visões estratégicas, com esperança no discurso. Hoje é o Livre que precisa de esperança e muita fé, para sair disto tudo com a dignidade possível.

*Crónica de 20 de janeiro, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR

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