Moria: aqui chega-se com esperança e morre-se à espera do futuro

Foto: Elias Marcou/Reuters


Há muito que deixaram de ter lugar na abertura de noticiários.

A realidade dos milhares de refugiados que vivem em condições miseráveis na Europa não interessa para os editores que escolhem as grelhas dos jornais em prime time, nem o alinhamento das rádios e muito menos nos jornais.

O campo de Moria, na ilha de Lesbos, na Grécia, é um dos casos mais dramáticos deste grito humanitário silencioso.

Tem capacidade para 2 mil pessoas. Todavia, vivem aqui neste momento 19 mil migrantes. Crianças, mulheres e idosos vivem abandonados, onde falta tudo, e à mercê de roubos, violações e assassinatos, realidade inevitável quando a necessidade maior é a sobrevivência.

O trauma destes povos, que passaram já por situações dramáticas de fuga à guerra e à morte, persiste quando chegam à Europa.

A Grécia é o país do Inferno para esta gente, porque aqui chegados, estão confinados a campos com condições desumanas, sem uma perspetiva de poderem continuar a viagem rumo a um futuro tão desejado.

Em pleno inverno estes milhares de pessoas passaram por mais uma guerra: o frio tenebroso, a falta de comida, a ausência de condições de higiene, crianças e bebes, famílias inteiras, gente que busca uma vida digna.  

A pergunta que me faço todos os dias é só uma: o Mundo continua cego? A Europa continua adormecida? Onde pára o sentido humanista desta União Europeia, que marcou a sua fundação e que a caracteriza de forma única e a distingue de outra qualquer organização mundial?

A verdade é que somos todos culpados. Pelo silêncio e pela ignorância sobre uma realidade que nos diz respeito a todos. Pelo caminho, eles vão morrendo, e se não for com uma bala é com o estômago vazio ou com a hipotermia da sua condição.

*Crónica de 17 de fevereiro, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.

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