Vasco Pulido Valente: o insatisfeito génio do meu tempo

Foto: Gonçalo F. Santos/Egoísta 


Hoje quero falar de um homem que impulsionou o meu gosto pelo jornalismo, pela política e pela sociedade portuguesa.

Um homem que teve tanto de brilhante como de controverso nos últimos anos da sua vida e, de certo modo, em grande parte dela.

Falo de Vasco Pulido Valente, escritor, historiador e, essencialmente, um cronista de mão firme na imprensa portuguesa.

O jornal Público, onde escreveu nos últimos anos, descreveu-o de forma ímpar na hora da triste notícia da sua morte, e passo a citar: ‘Vasco Pulido Valente, a melhor prosa e o “pior feitio” do jornalismo português’.

Quem o leu anos a fio, como eu, conhece-lhe bem o génio. A sua prosa, tão mordaz como brilhante, era muitas vezes um feitiço que nos fazia ter esperança num Portugal melhor. Nem sempre fácil pois Vasco mergulhava na vida do País sempre de uma forma pouco diplomática e mortal até. Para resgatarmos o bom, tínhamos muitas vezes de ir ao fundo dos caracteres que Vasco Pulido Valente debitava.

Para nós, os que nascemos a ler e ouvir os grandes do jornalismo português, é mais uma soma nas perdas que vão acontecendo. Para os que não sabem, Vasco Pulido Valente foi diretor adjunto de O Independente, nos anos 90, na altura, na companhia de outros dois génios que deixaram marca de ousadia na classe: Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas.

Quem o leu anos a fio, como eu, conhece-lhe bem o génio. A sua prosa, tão mordaz como brilhante, era muitas vezes um feitiço que nos fazia ter esperança num Portugal melhor. 

Desassombrado, ousado e sempre com uma língua afiada fosse qual fosse o político, perdeu, nos últimos anos, algum encanto, pela forma como deixou de encantar quem o conheceu a derramar prosas literárias e jornalísticas.

Com o Vasco partiu parte de uma importante memória deste país. Com o Vasco partiu um pouco da esperança que com ele aprendi a ter, naqueles anos de ouro em que acordava de manhã, sedenta de ler a sua crónica e a do Eduardo Prado Coelho, ambas nas páginas do jornal Público.

O que mais me entristece? Vê-los partir um a um. Todos eles, os que influenciaram a escolha da profissão que hoje exerço e que, de todos, bebi um pouco do seu brilhantismo e sede de conhecimento.

Que a viagem seja leve, Vasco! Este país não será o mesmo sem ti!

*Crónica de 24 de fevereiro, na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR

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