'A incompetência mata', por Clara Ferreira Alves

Secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, numa conferência de imprensa diária da DGS sobre os números do Covid-19 em Portugal. Crédito: António Cotrim/lusa
Como sempre - sou suspeita porque há anos que a leio - Clara Ferreira Alves faz um retrato do essencial do tempo estranho e indefinido que vivemos todos. Deixo dois excertos, os que mais me marcaram da sua crónica deste sábado, no semanário Expresso. É tudo isto e o que vai para lá do essencial.

"Acabem com o lugar-comum. Esta crise não tem comparação com a de 2008 ou o 11 de setembro. A única comparação seria com a II Guerra Mundial, com um inimigo invisível e insidioso que não convida aos rasgos de heroísmo e narcisismo autodeclarado. Enterrados e cremados os mortos, teremos de reconstruir um mundo arruinado. Ninguém nos virá salvar, muito menos a China. Como isto será feito, ninguém sabe. O tempo passa e sabemos que tudo passa, mas muitos de nós não estarão lá, no dia zero da reconstrução. Uma grande parte da população mundial vai morrer, e isto para mim, que vi guerras, é guerra. A fome não convida ao canto nas varandas nem à literatice que agora nos inunda e aborrece. Não estamos no sarau, estamos na batalha. A fome traz ao lado a sua irmã gémea, a insurreição, e atrás dela o cangalheiro. Um chefe político apura-se nestes momentos de luta pela existência. Uma guerra não é ganha com armas, é ganha com a logísticas.

(...)

O que ele (António Costa) deve fazer é reunir com os peritos da logística, incluindo os militares, e acautelar o futuro, e o futuro é hoje. Acautelar a situação económica, que irá explodir, carregando tragédias e suicídios. Acautelar que a crise sanitária está a ser controlada e verificada, que as redes de serviços essenciais, transporte e abastecimento se vão manter, acautelar a segurança dos cidadãos e as restrições à liberdade de movimentos, vigiar a desordem, monitorizar a ordem, punir a ausência do posto (...)". 

Clara Ferreira Alves, "Pluma Caprichosa", Revista E - Expresso, 04.04.20. 

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