Apoios à comunicação social: um debate sem fim


Falar de setores em crise é quase ridículo nos tempos que correm. Não há nenhuma área de atividade do país que não tenha sido afetado pela pandemia de Covid-19.

Mas nesta crónica quero falar, mais uma vez, do setor da comunicação social. Muito se tem escrito e falado sobre os 15 milhões de euros que o Governo decidiu injetar nos média, em jeito de combate à desgraça. 

Não vou sequer deter-me no valor em causa, porque pese embora saibamos que é muito pouco, não é esse o ponto mais importante.

Sou muito clara: não me choca nem nunca fui contra publicidade institucional nas páginas dos jornais e revistas, nas rádios e televisões, nem nos meios digitais.

O Estado, enquanto anunciante, é um cliente como outro qualquer. Grosso modo é exatamente isto. Ou devia ser. Contudo, obviamente que tratando-se do Estado, haverá sempre uma intenção pública associada. E pergunto eu: de que forma é que isso pode aprisionar os órgãos de comunicação social? À partida, em nada.

Nesta guerra que se instalou na classe e em parte na sociedade portuguesa, fala-se muito da tentativa de o PS amordaçar os meios com este apoio.

Pois é, caros ouvintes, isso por si só não vale nada. Porque só se deixa calar quem quer, só se deixa condicionar os fracos.

A culpa é de todos, não é exclusiva de nenhuma das partes. O apoio do Governo chega tarde? Chega. Antes da pandemia há quantos anos soavam alertas sobre a sustentabilidade do jornalismo? Há muitos, com o diagnóstico bem identificado. O que fez o Estado? Nada. É condenável a forma e o critério de distribuição destes 15 milhões de euros? É, totalmente. Perguntem a milhares de responsáveis de jornais e rádios locais e a outros grupos mais pequenos deste país, quanto receberam? Por sua vez, como sabemos os dois maiores grupos de média deste país receberam a maior fatia. Neste ponto, também estamos conversados.

E por fim, uma palavra para a minha classe: quantos jornalistas, nos últimos 30, 40 anos podem dizer que foram sempre independentes e isentos no seu trabalho? Quantos jornalistas sucumbem, num ou noutro momento, a pressões políticas e económicas? Não me venham com moralismos porque a classe jornalística tem a sua quota parte de responsabilidade nesta crise. Não estou a apontar o dedo a ninguém, estou a apontar o dedo a todos nós. Onde eu me incluo.

E, no meio do lamaçal, e de uma crise que só se agudizou com a Covid-19, só me espanta é ver muitos alegados e reputados jornalistas deste país a defenderem o jornalismo onde eles próprios pisaram durante anos.

Para nos levantarmos, para que o país nos respeite, é preciso ter a coragem de assumir os erros e sermos os primeiros a levantar a mão para fazer mea culpa e para lutar de novo por uma profissão imprescindível para qualquer democracia.

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*Crónica de 25 de maio, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.

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