Novo Banco e a ingerência política inqualificável
O episódio do Novo Banco a que Portugal assistiu, na semana passada, é digno de uma boa trica à boa moda portuguesa.
A novela, em jeito de crise política, no meio de uma crise sanitária, seria esmiuçada até ao tutano noutras circunstâncias.
Pese embora o que todos nós possamos achar da injeção dos 850 milhões de euros no Novo Banco, e da forma como ela foi feita, há uma atitude imperdoável de uma das partes envolvidas.
Falamos de Marcelo Rebelo de Sousa, na minha opinião, o homem que esteve no epicentro desta crise.
Quando um Presidente da República, por mera ambição política, toma as dores de um Primeiro-Ministro e se coloca publicamente contra o ministro das Finanças, está a entrar por caminhos perigosos.
Primeiro, tal como disse Mário Centeno, é uma ingerência política inqualificável.
Não contente, Marcelo, além de agudizar o problema, ainda se viu obrigado a vir pedir desculpa ao ministro das Finanças quando este ameaçou bater com a porta.
Já todos percebemos que Marcelo quer continuar nas boas graças de António Costa e do PS para voltar a ser reeleito no final de 2021.
Contudo, a experiência política de Marcelo, e a sua habilidade, parecem ter ido para as calendas porque é desastrosa a forma como comunica para os média e para o país.
O povo já percebeu que há, grosso modo, uma harmonia entre este primeiro-ministro e o atual Presidente da República. Também já percebemos todos que, mesmo no meio de uma crise sem precedentes no país, o jogo político não está suspenso. O problema é que há limites para a sofreguidão de Marcelo.
E no meio disto tudo, sobrou para António Costa que, além de ter uma crise para gerir em mãos, ainda tem de andar a juntar cacos para manter, para já, o seu ministro das Finanças.
É o país político com que contamos em tempos de pandemia, de crise social e económica.
*Crónica de 18 de maio, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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