Regina Duarte: a esperança que virou descontrolo

Atriz brasileira tem-se envolvido em várias polémicas nas últimas semanas

Sou fã da atriz Regina Duarte. Desde miúda que cresci a vê-la representar em inúmeros papéis marcantes de várias telenovelas brasileiras. Julgo que, como eu, muitos portugueses e milhões de brasileiros cresceram a respeitar a sua carreira. E esta é, inequivocamente, irrepreensível.

Talvez por isso, quando aceitou ser Secretária Especial da Cultura de Jair Bolsonaro, essa unanimidade tenha dado lugar a um sentimento controverso entre as sociedades e opiniões públicas dos dois lados do Atlântico. 

Ainda assim, por lhe conhecer o pensamento moderno em relação à cultura e às artes, achei que seria uma mais-valia num Governo que vale muito pouco e que antes de nascer já estava recheado de casos e de muitas polémicas. Ainda assim dei-lhe o benefício da dúvida.

Contudo, a sucessão de episódios e a forma como tem expressado o seu pensamento em relação a muitas matérias, desfizeram, ao longo destes últimos tempos, a esperança que eu achava que Regina representava.

Não é apenas o facto de algumas das suas posições, muito próximas de Bolsonaro, se terem revelado demasiado perigosas, é também a sua falta de capacidade de comunicar. Para uma atriz, com a experiência de Regina Duarte, parecia, à partida, que ganharia nesta frente. Mas essa vantagem é a da atriz e agora Regina está na política e, nesta arte, o seu dom de oratória e comunicação tem-se revelado um autêntico desastre.
Em suma, o Brasil não enfrenta só uma crise sanitária, económica e social. Acima de tudo, com Bolsonaro e seus seguidistas, o Brasil enfrenta uma grave crise de valores e de democracia

A gota de água chegou hoje com a lamentável postura que revelou numa entrevista à CNN Brasil a propósito de uma mensagem da também conhecida atriz Maitê Proença em que esta criticava a ausência de posições da secretária da Cultura em relação aos artistas e artes brasileiras.

Como se isso não bastasse, a opinião que deu sobre a censura e a tortura nos tempos da ditadura brasileira nos anos 60 e 70 no país, foi a cereja em cima do topo do bolo. Minimizar a morte e a tortura é elucidativo do descontrolo em que Regina Duarte caiu.  É pena, porque uma atriz como ela não precisava de nada disto.

Regina deu um grande tiro no pé. Escusado, sobretudo na fase de vida em que se encontra, e manchando uma carreira invejável na representação brasileira. É, sem dúvida, uma grande deceção para muitos daqueles que seguem o seu trabalho e a têm em boa conta.

Em suma, o Brasil não enfrenta só uma crise sanitária, económica e social. Acima de tudo, com Bolsonaro e seus seguidistas, o Brasil enfrenta uma grave crise de valores e de democracia. 

O povo, faminto, devia voltar a colocar o país no rumo certo. Só que para isso é preciso que esse mesmo povo não morra. Da fome. Mais do que da pandemia, da fome. 

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