Covid-19: uma moeda azarenta

Vivemos tempos perigosos. Não é só porque a Organização Mundial da Saúde o diz. É porque eu própria os estou a viver na pele.

A Covid-19 trouxe-nos novas formas de viver. De falar, inclusive. A palavra desconfinamento é agora uma novidade no nosso vocabulário. E usamo-la para quase tudo nos nossos discursos.

E não há dúvida: o desconfinamento devolveu-nos a liberdade mas também nos trouxe perigos que, já sabíamos, à partida, que viriam no presente envenenado.

Se é certo que a abertura da economia era urgente, também é um facto que, sem uma vacina, o contágio iria crescer em massa. O caso da Grande Lisboa prova isso mesmo, sem ser necessário grandes bases científicas para o justificar.

Não há volta a dar. O uso dos transportes públicos, o maior número de contactos sociais, o regresso ao trabalho, tudo isto adensa a probabilidade de aumentar o número de infetados.

Mas isto é natural. O que já não é normal é a quantidade de irresponsabilidades que temos assistido, com ajuntamentos de convívio social, sem cuidados e como se a pandemia fosse algo do passado. Não é. O vírus corre a nosso lado, continua ativo, e temos mesmo de aprender a viver com a sua companhia.

Não é exclusivo de jovens. É culpa de todos. Porque somos todos responsáveis. É por isso indigno ver o Presidente da República apelar ao sentido de responsabilidade dos jovens quando também outros grupos etários têm estado muito mal nas opções pessoais que têm tomado.

Não há volta a dar. Se não fizermos cada um a nossa parte, não há sobrevivência que resista.

E muitos mais morrerão. Só que agora, muitas destas mortes serão em vão porque estão ao nível de um jogo injusto. E serão muitos a sofrer as consequências das atitudes de outros.

Protejam-se. E pensem nos outros, nos vossos, naqueles que não têm as mesmas possibilidades de resistência.

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Crónica de 22 de junho, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.

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