São Domingos: uma mina e uma praia que resistem no território mineiro do Alentejo profundo

 Texto e Fotos: Ana Clara

O Baixo Alentejo, talvez ainda desconhecido de muitos, assume-se desnudado e livre para quem o percorre.

Entre aldeias e vilas, com quilómetros a perder de vista de paisagem, que alterna entre a planície e os vales do Guadiana, encontramos uma orquestra sinfónica única, onde coabitam flora e fauna, numa melodia muito especial.

Outrora mais selvagem, a Praia de São Domingos, concelho de Mértola, mantém-se pura, dependendo da época do ano em que a visitamos. É, pois ela, o nosso destino.

Quem vem de Mértola, como era o nosso caso, há uma paisagem sem fim, a perder de vista, na velhinha estrada N265. 

À medida que percorremos os vales alentejanos, percebemos que falta pouco quando nos surpreende um vasto plano de água e muitas árvores que haverão de fazer de sombra para uma tarde de fim de julho digna de um livro de contos.

Alvo de recuperação, esta é uma das praias fluviais mais bonitas do país, posso assegurar. Areias brancas (Bandeira Azul, com vigilância), ordenamento do espaço, um parque de estacionamento com regras e gratuito e um restaurante que apoia a concessão durante todo o verão. Inicialmente construído para abastecimento da povoação e dos trabalhos mineiros que lhe deram nome, este grande açude, assume hoje outras funcionalidades bem mais recreativas.

Em anos passados, sem haver Covid que estrague os meses de verão, e durante a época balnear a Câmara de Mértola organiza atividades de animação dirigidas aos veraneantes, com destaque para o cinema ao ar livre nas noites de domingo, concertos ou a biblioteca de praia. 

                            Vista aérea da Praia de São Domingos. Foto: Câmara de Mértola

Visões e ruínas de uma mina histórica

Conhecida por Praia Fluvial de São Domingos por causa do complexo mineiro fundado por volta de 1857 na aldeia e que foi considerado o maior complexo mineiro industrial para a época em território português, chegou até a ser a mina de cobre mais importante da Europa com cerca de 3.000 trabalhadores e 6.000 habitantes.

As minas haviam de encerrar em 1966. As suas ruínas hoje apenas nos mostram o que, em tempos, ali foram antigas fábricas de enxofre para onde uma linha de caminho de ferro levava minério.

Com tantos trabalhadores, existiam casas para os alojar e também casas para prestação de serviços logísticos à mina mas hoje em dia está abandonada. Mas ao visitar a aldeia é possível também ver as ruínas e perceber como seria na altura.  

As minas haviam de encerrar em 1966. As suas ruínas hoje apenas nos mostram o que, em tempos, ali foram antigas fábricas de enxofre para onde uma linha de caminho de ferro levava minério.

É um amplo espaço aberto onde se destacam duas torres que há alguns anos estão em ameaça de derrocada. Uma delas até tem suspenso um enorme pedaço de cimento.

Quem visita o lugar, fica com uma sensação de fascínio, de recuar a largos anos passados, sentindo ao mesmo tempo a essência do labor que ali se viveu com intensidade, até talvez do tempo dos romanos, que extraiam cobre e prata numa exploração mineira a céu aberto.


Os dados oficiais falam por si: no passado recente, em mais um século de exploração, foram extraídos 25 milhões de toneladas de minério. A rede de galerias e poços chegou aos 420 metros de profundidade. Na zona envolvente da mina estão várias construções. Uma delas, muito grande, com uma torre, a central elétrica, a primeira a ser construída no Alentejo.

À medida que caminhamos avistamos ainda o que resta das paredes das oficinas e do cais onde era descarregado o minério. São estruturas fantasma, com paredes grossas e portadas largas que se mantêm ainda firmes, quase como que a gritar por um território cujo tempo parece não corroer.

Nesse final de tarde de julho, em que visitamos as ruínas, o sol está abrasador ainda, a luz natural exerce um brilho mais acentuado, não só ao que resta da mina como à aldeia, onde o branco do casario de destaca, ferindo docemente os nossos olhos. 

Seguimos viagem e, ao mesmo tempo, impele-nos uma vontade assustadora de regressar. O Alentejo é isto. O Alentejo também é muito mais que isto.

Como chegar e contactos:

Morada
Mina de S. Domingos Mértola
GPS:
37.67187636773801, -7.505443245568813
Email:
turismo@cm-mertola.pt

Alojamentos na Mina de S. Domingos

Alentejo Star Hotel

Casa da Torre | Casa de Campo

Monte da Galega | Agroturismo

Pensão S. Domingos | Alojamento Local 

Restaurantes Mina de S. Domingos

Restaurante Seppia

Casa de Pasto A Taberna

Restaurante Café S. Domingos

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