Presidenciais 2021: os pesos que Marcelo carrega em Costas bem largas


E eis que finalmente, Marcelo anuncia que é recandidato a Belém. Foi difícil (ironia), mas foi. 

Continuo sem entender para quê tanta espera, tanto tabu, fazendo lembrar os tempos cavaquistas de Belém. Marcelo avança, mas avança com mais cautelas do que há cinco anos. Sabe que carrega um mandato de altos e baixos, de estado de graça e de (muitas) desgraças. E ao contrário do que disse esta segunda-feira no anúncio da sua candidatura, não, este não é o mesmo Marcelo de há cinco anos. Por várias razões.

Para mim há 4 fatores que pesam, e muito, nos braços agitados do professor-estrela:
  • A tragédia dos incêndios de 2017 e o péssimo comportamento e atuação do Estado português e dos seus governantes. Marcelo cometeu muitos erros e, ainda assim, nunca fez nada para os reconhecer até hoje;
  • O roubo do material de Tancos em que o Presidente se portou, em muitos momentos, como um comentador e não como um Presidente;
  • A pandemia e, por causa dela, as constantes tentativas de interferência no poder executivo. Se se tratasse de um outro Presidente, já tinha caído o 'Carmo e a Trindade', mas sendo Marcelo a ser Marcelo, está tudo bem. Foram uma tragédia, muitas delas com a conivência de António Costa, que preferiu calar-se a não ter o apoio institucional de Belém. Quanto a mim, foram graves as suas posições em tanto assunto, numa tentativa clara de influenciar os poderes. 
  • A sua excessiva exposição, a vulgaridade com que, em muitos momentos, retirou sentido de Estado ao cargo, querendo fazer parecer que é do povo e que deve parecer que assim é sempre. Não precisava disso, nem o cargo nem o povo. Mas, ainda assim, ele insistiu, sendo o omipresente Marcelo que achou, até um determinado momento, que podia tudo. 
É certo que a reeleição não lhe escapará, mas provavelmente perdeu muitos eleitores, defraudados por um homem que prometia muito. 


O cargo de Presidente da República merece sentido de Estado, respeito institucional por quem o exerce. E é possível manter esse respeito intacto, estando próximo do povo. O problema é que Marcelo perdeu a noção dessa fronteira e desse limite, tornou-se indomável em cada agenda mediática do dia e não soube, a partir de certo ponto, gerir a balança da comunicação. Foi aquilo que era enquanto comentador: uma picareta falante que, de tanto cansar, deixou de ser ouvida com atenção.

Nestas que serão as eleições mais estranhas da história democrática pela reinvenção à custa de uma pandemia, não será necessária muita campanha, porque, no meio das escolhas, Marcelo representa a estabilidade. E este é o seu maior trunfo. Entre popular e populista, Marcelo opta pelo primeiro. Ainda assim, em muitos momentos, foi e continuará a ser um verdadeiro populista mediático.

Fotos: Presidência da República. 

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