Covid-19: Portugal e o seu contrário

Não sou derrotista, muito menos pessimista, mas a realidade supera quaisquer expectativas do ser humano.

Erros? Cometemos muitos. Diariamente. Cada um de nós. Seja no trabalho, seja nas nossas vidas. É algo que está associado a todo e qualquer ser humano.

Partindo daqui, eis que chegamos a um ponto em que o barco já não se sustenta. Esperámos, tranquilamente, sabendo que a tempestade viria. E sabíamos que ela chegaria, se descuidássemos a manutenção da embarcação. 

O País está hoje num patamar gravíssimo da sua saúde pública. O sistema já não aguenta e está sem condições para poder tratar decentemente doentes Covid e não Covid - estes últimos, que pouco ou nada se fala, serão, decerto, ainda mais graves a médio-longo prazo.

Sabíamos que assim seria se o descontrolo acontecesse. Ainda assim, o Governo, o Presidente e todos os responsáveis de direito decidiram ser "simpáticos" no Natal, ser brandos e não antecipar aquilo que não se pode controlar: o comportamento humano.

Por mais que compreenda a dificuldade tremenda que os responsáveis políticos têm em mãos, espera-se, de um líder, que não vacile, que não ceda - por razões eleitoralistas - na hora de pensar primeiro na saúde dos seus cidadãos.

E exemplos não faltaram: bastava olhar para países como a Alemanha, a Bélgica, a França e até a própria Espanha e para o que fizeram no Natal e final do ano. 

Por cá, resolveu-se facilitar, deixando nas nossas mãos - cidadãos - a responsabilidade das nossas ações.

Pergunto-me porquê. Sobretudo quando alguns de nós já deram provas de que não são capazes de continuar o sacrifício. 

Estamos todos cansados, saturados, a perder rendimentos, a ver uma vida a descambar. Olhando para o futuro, o cenário é igualmente negro, sem perspetivas de uma saída rápida desta crise em que estamos todos mergulhados.

No meio disto tudo, e entre o Natal e o Ano Novo, criaram a ilusão, mediática, com a chegada da vacina. Houve até uma sobreposição dessa boa notícia que nos chegou, dias a fio, deixando de lado as preocupações que já conhecemos de que o vírus anda aqui, ao nosso lado, em cada esquina e rua da nossa casa.

Somos todos, sem exceção, culpados. Todos. Nunca, como nesta crise, os cidadãos foram chamados a intervir nos destinos do país de forma tão direta e tão decisiva. Lamentavelmente, numa questão de vida ou de morte.

Mas a maior responsabilidade, pese embora as boas intenções, está escrita na cara do primeiro-ministro. António Costa perdeu o rumo e chegou a um ponto que me deixa muitas dúvidas sobre se é capaz de continuar a liderar o navio.

Já naufragou muito e mais vidas se vão perder. Está escrito na página do futuro próximo.

Pelo meio da tormenta, assistimos à destruição do tecido económico, insiste-se em medidas que podiam ser revistas, por se perceber, que algumas delas, não produzem os efeitos desejados.

2021, 2022 e 2023 - só para falar do imediato - serão anos duros para todos os portugueses. A sociedade portuguesa terá, como sempre, de se reerguer, e será uma tremenda travessia, porque nunca até hoje tivemos uma crise tão grave, transversal, como esta.

Uns dirão que a bazuca europeia ajudará. Outros afiançarão que nos havemos de reerguer. É certo que sim, mas à custa de quê, de quanto, e de preço?

Desde o início até hoje vivo com o medo permanente de perder alguém que me é próximo para esta guerra. Passei por isso há uns meses, e vos garanto que é insuportável. Só que uma coisa já é certa - e dolorosa: estamos a perder uma geração inteira do nosso país. Os velhos, os idosos, os nossos. E quanto a isso, não há notícia alguma que nos faça recompor dessa perda.

Talvez uma esperança de Fé, de religião, de outra dimensão nos possa ajudar a reganhar esperança. Talvez. Ou talvez estejamos todos condenados a ter de o fazer sozinhos. 

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