Vacinas: o descrédito da moral e da (falta de) solidariedade

No pior momento que o País atravessa, neste inferno pandémico, os casos de apropriação indevida de vacinas por este país fora, diz muito da sociedade que temos.

Tomar a árvore pela floresta, dir-me-ão, poderá ser injusto, mas são inqualificáveis as ações que muitos portugueses têm tomado em relação a este assunto.

Usam o poder e o estatuto – de merda, diga-se – para poderem tomar a vacina antes de outros, pessoas prioritárias, indefesas, frágeis. Acham-se os maiores, à boa moda da cunha, ao fazê-lo. Não demonstram qualquer tipo de decência: moral, vertical, digna.

Esquecem-se que deviam ser agentes na ajuda às populações. Populações essas que precisam, neste momento, mais do Estado que alguma outra vez. E o que têm? Gente sem escrúpulos, do egoísmo mais em estado puro que pode haver. “É o salve-se quem puder”.

O Estado tem de acabar com esta impunidade. Num dos momentos mais críticos do país, é também nestes momentos que esse Estado tem de ser o garante do seu povo. Quantos idosos não estão em casa, sozinhos, a morrer de solidão, com patologias graves, e a definhar?

Quantos doentes, prioritários, não deviam já ter sido vacinados, mas eis que sabemos todos, as vacinas ainda não chegam para todos?

Quantos? Sim, são nossos avós, são nossos pais, são amigos, que precisam mais do que tantos, de serem protegidos.

Tem de haver mão pesada para esta gente. Autarcas, dirigentes de lares, responsáveis máximos de entidades de saúde deste país, que se apropriam, indevidamente, de um bem que é de todos, que é escasso e que, por tudo isso, foi tabelado em fases prioritárias. 

Serve este post para dizer que tenho vergonha desta gente, que esta gente não merece um pingo de respeito pelo ar que respira e que cabe ao Estado endurecer aquilo que as suas consciências não são capazes de entender.

Estamos a assistir, em direto, à morte de uma geração inteira. Estamos a perdê-la para a Covid-19. Uma geração a quem devemos tudo, sobretudo, quem somos e o que somos. Estamos a perder os nossos velhos. E agora que há uma esperança, vamos permitir que gente desta se aproprie desta boia de salvação? Se o continuarmos a permitir, então temos um Estado que padece da mesma doença. Que saibamos ser justos com os mais fracos, porque eles já fizeram o que tinham a fazer por este país. É agora a nossa vez de os salvarmos!

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