100 anos de PCP: um futuro muito frágil

"O futuro tem partido". O mote comunista para as celebrações dos 100 anos está dado. O PCP cumpre, este sábado, um século de existência e resistência. É preciso dizê-lo. 

Muito há a dizer sobre um partido que permanece de protesto e que continua a ser um caso paradigmático na Europa, no contexto da sobrevivência política e partidária.

Em 2015, quando se permitiu integrar a Geringonça, o PCP sabia que precisava disso, para manter viva a chama de um partido há muito parado no tempo.

Fez dela um ponto de honra naquilo que é a (pouca) chama interna que ainda permanece acesa. Mais tarde, havia de perceber que são impossíveis manter as linhas de abertura a novos mundos com aquilo que são as matrizes internas e o seu ADN.

Hoje, nos 100 anos do PCP em Portugal, há uma pandemia a ensombrar ainda mais a ação política, que no caso comunista, se faz essencialmente na rua, junto das massas. Mais do que qualquer outro partido, é no seu eleitorado que o PCP sabe que tem de continuar a jogar as fichas todas. Um eleitorado envelhecido e que, nos últimos anos, tem perdido força em todas as frentes políticas.

Seja como for, este século de 'Avante, Camarada' são incontornáveis na história política nacional. Independentemente do que cada um de nós pense sobre o partido, liderado hoje por um Jerónimo de Sousa que já não tem a vitalidade de há 20 anos.

Sem PCP e muitas das suas lutas históricas e partidárias, de que Álvaro Cunhal foi o seu maior guardião, o sistema político não seria o mesmo. Não importa se seria melhor ou pior. Na verdade, é indesmentível como um partido que o tempo colocou fora de todos os tempos, permanece vivo, e na rua.

Muitos, como eu, estão no ponto oposto às suas ideias, económicas, políticas, geopolíticas. É impensável, para mim, compreendê-las. Nunca conseguirei. Mas não posso, nunca, ignorar a importância de um partido como este no meu país, na Europa e no Mundo. Tal como todos os outros partidos tradicionais, o PCP tem e terá sempre esse mérito em Portugal. Por mais que isto custe a muita gente. Sou suspeita, porque sendo eu uma seguidora da história política nacional desde tenra idade, aprendi a gostar de política, conhecendo a história por detrás da ação e dos seus protagonistas. Talvez isso me dê outra visão de todos eles. Também talvez seja por isso que me sinta, enquanto cidadã, cada vez mais afastada deles. Porque a política deixou de servir a res pública, o seu maior desígnio. E esta é, provavelmente, a foice e o martelo (ironia) que mais feriu de morte a soberania do povo. 

Contudo, e como já aqui disse muitas vezes, não há futuro para este partido. Será uma questão de tempo. Porque o progresso não é compatível com ideias de há 100 anos. O desenvolvimento económico e social também não. E olho para o tal futuro que hoje os comunistas clamam como uma chama, quase, quase a apagar-se, com muitos lados sombrios. Não podemos defender massas com princípios desajustados, de outro século. Se isso não for entendivel, não há retorno. E não haverá, na minha opinião.

Nota final: a polémica das bandeiras espalhadas em avenidas de várias cidades portuguesas, e que integram as celebrações do centenário comunista, está por aí montada. É um espetáculo que a mim me fere a vista. Exagerado e escusado. Indigno até. Seja como for, se estiver dentro da legalidade, não há muito a dizer. Quem se quiser indignar, que o faça. Só gostava também que se indignassem, na mesma proporção, com a propaganda de rua em cada eleição deste país e que, após as eleições, permanece meses afixada, até o sol e a chuva os corroerem. Neste país, temos uma Constituição da República, ainda muito obsoleta no que à propaganda eleitoral e direitos políticos diz respeito. Tal como o PCP, impera uma urgente revisão constitucional em muitas matérias. Profunda até, como a pandemia veio pôr à tona, e de que maneira. Cabe aos representantes que elegemos, todos nós, terem essa vontade legislativa. Mas sabemos todos onde acabam os consensos, na hora H. Os preceitos ideológicos nunca o permitirão. Lamentavelmente.

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