Covid-19: 22 milhões de novos pobres na América Latina
“As pessoas têm que decidir se morrem de fome ou morrem de Covid”.
É desta forma que a Oikos - ONG portuguesa que atua na América Latina, desde 1990, reage ao relatório das Nações Unidas, lançado há poucos dias, que conclui que a pandemia Covid-19 eliminou 20 anos de progressos feitos no combate à pobreza nesta região.
Segundo o relatório das Nações Unidas, intitulado ‘PanoramaSocial da América Latina 2020’, apresentando em Santigo do Chile, a pobreza extrema afetou 12,5% da população, valores que não se registavam há duas décadas. A região é simultaneamente a zona do mundo mais afetada pela Covid-19 neste momento e a região com maiores índices de desigualdade.
Para a Oikos, os números refletidos são muito alarmantes. Em apenas um ano, a economia regrediu dez e aumentou a pobreza nos países centro-americanos que, antes da pandemia já estavam entre os mais pobres da região.
“As medidas tomadas pelos governos locais para controlar a
pandemia deixaram os mais pobres numa situação em que tiveram que decidir se
morrem de Covid-19 ou morrem de fome”, declara Leena Siikanen coordenadora da
Oikos na América Central.
As tempestades tropicais que atingiram fortemente a Nicarágua e Honduras no final de 2020 agravaram ainda mais a situação de pobreza.
“Ao dia de hoje, existem famílias que ainda vivem em abrigos a aguardar poder voltar para as suas casas ou outra solução”, lembra.
Por outro lado, a pobreza tornou-se ainda mais visível. “As ruas estão cheias de famílias que pedem dinheiro para comprar comida ou remédios, enquanto a pandemia não dá sinais de melhora. As crianças mais pobres não tiveram acesso a uma educação adequada durante um ano inteiro e nas Honduras os números apontam para dois milhões de alunos que abandonaram a escola. Além disso, há anos a América Central vive outra forte pandemia - a corrupção, que aproveitou a situação de emergência gerada pela Covid-19 para realizar flagrantes atos de corrupção, independentemente da situação vivida pela população mais vulnerável”, adianta.
A Oikos é uma das poucas ONGD portuguesas que trabalham na América Latina ao longo das últimas décadas. Ao ver-se confrontada com esta situação, a Oikos tem apoiado as comunidades mais desfavorecidas num total de cerca de 10.000 pessoas. Mais de 45 comunidades em situação vulnerável foram apoiadas diretamente em El Salvador, com a distribuição de cabazes de alimentos, kits de higiene e cartões de acesso a bens essenciais. Nas Honduras o foco foi a formação, prevenção e empregabilidade além do reforço de 12 Entidades do Sistema Nacional de Gestão de Risco.
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