18 de abril: o dia da vida e da saudade infinita

"Ter um destino é não caber no berço onde o corpo nasceu, é transpor as fronteiras uma a uma, e morrer sem nenhuma". É com Miguel Torga que começo este texto, um texto que te evoca, que te mantém em mim, como se nunca tivesses partido. 

Neste 18 de abril, celebramos a vida, a tua, a nossa, a de todos aqueles que marcaste de forma intensa. Há dias melhores que outros, o tempo é um  antídoto que vai curando, aqui e ali, a ferida maior da ausência que deixaste nas vidas de todos nós.

Hoje, neste 18 de Abril saudoso, refletem-se em mim as cores de sempre. As gargalhadas de todas as eternidades. Os anseios de todas as horas, num fio de esperança que nunca deixas esmorecer em nós.  

Quase 11 anos sem ti. Uma década lenta. Tortuosa. Contada em cada segundo de saudade crescente. É demasiado tempo para construir um universo de saudade. E tempo a menos que não pude ter contigo. Mas os últimos dez anos também foram de partilhas, de anseios, de felicidade. Todas elas contigo presente. Nas manhãs mais coloridas, nas tardes tempestuosas, nas noites de decisões, nos meses e anos negros e nos mais desafiantes também. Estamos há um ano numa pandemia sem precedentes, sabes? Saberás, certamente, e decerto que nos gritas desse lado palavras de esperança, melodias de entusiasmo, forças para combater as dificuldades. Se estivesses aqui connosco, sei-o, serias o primeiro a lutar contra este e tantos outros vírus mais graves que esventram a sociedade em que sobre(vivemos). 

Nos jardins onde passeias há raízes que crescerão sem prazo para despontar. A luz que me deixaste continua a ser o farol da minha viagem. É o ponto que me orienta em cada travessia. Lá longe, no infinito do nosso abraço, haverá sempre a voz do meu desassossego, a voz do meu mestre, a voz do meu amigo. A mesma que me sopra ao ouvido desde o dia em que te conheci. A mesma que me mantém serena depois da tempestade. Quase 11 anos é muito tempo. O mesmo tempo que será sempre demasiado para calar a saudade. 

Como dizia Confúcio, “a morte não é a maior perda da vida. A maior perda é o que morre, dentro de nós, enquanto vivemos”. E se há certeza inabalável é a de que isso nunca acontecerá nos corações daqueles que tocaste. Assim te lembrarei sempre, todos os dias que me restam, todos os suspiros que ainda me permitirem.

Carlos Pinto Coelho (18 de abril de 1944 - 15 de dezembro de 2010). 

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